sábado, 18 de outubro de 2008

Sugestões para Ler a Palavra de Deus.

São Jerônimo, presbítero e Doutor da Igreja, homem apaixonado pela Palavra de Deus, viveu no séc. IV e é o patrono dos biblistas, .








Sugestões para ler a Palavra de Deus....


8 Ler a Palavra de Deus (em oração e meditando-a. Ela é o metro para medir os eventos da história contemporânea, para acolher o apelo divino, para compreender se tais eventos estão na direção certa ou não. E qual é a direção certa? É a direção da história da salvação.


8 Caminhar com a Igreja, com sua orientação: acolher o que pensam os irmãos na fé e sobretudo a partir das orientações do sucessor de Pedro (o Papa) e o sucessor dos apóstolos (o bispo local) num clima de comunhão e unidade.


8 Ser humilde e sensível aos apelos do Espírito Santo que é infinitamente livre e ininterruptamente operante na história, sem a pretensão de termos conseguido a intuição definitiva da verdade.

Caro Filoteu, postei esta série de comentários para homenagear um monge sacerdote que viveu no IV século. Seu nome era Jerônimo. Este homem amava profundamente a Sagrada Escritura, tanto é que fez um trabalho magistral de traduzi-la do hebraico e do grego para o Latim (um grande feito em sua época). Ele dizia que "ignorar as Escrituras é ignorar Cristo". Hoje, 30 de setembro, é sua festa litúrgica. Que ele nos inspire para que a Palavra do Senhor seja "luz para nossos olhos e lâmpada para nossos pés" (Sl 118, 105).

Que teu amor pela Palavra do Senhor te faça um alguém apegado à verdade que nos faz livres.

Meu abraço e minha bênção, Pe. Marcos

A Palavra se fez gente e permaneceu conosco!

"Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como certo; tu sabes de quem o aprendeste. Desde a tua infância conheces as sagradas letras; elas têm o poder de comunicar-te a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda boa obra" 2Tm 3, 14-17.


As ações de Deus e de Jesus Cristo chegaram a nós através da tradição. Não se trata diretamente dos fatos, mas do testemunho dos fatos e o testemunho dos fatos são os relatos. Uma palavra os transmitiu e interpretou. Assim, a Bíblia é o relato e a interpretação para nós da aventura de Deus com os homens na história e através da história. Nós nos revelamos através dos nossos gestos (bem mais que através de nossas palavras). Assim, as ações de Deus na história revelam a sua misericórdia e a sua fidelidade. A palavra é a intérprete dos fatos e a profecia é a interpretação do ponto de vista de Deus dos grandes gestos. A profecia é história interpretada, ou seja, narrando a história ela descobre e manifesta o sentido de Deus nos eventos de Israel, relaciona a história do passado como o que se deve ou deveria ser no presente, com o que acontecerá no futuro. A história da salvação espera ser reinterpretada, representada e vivida por todas as gerações de pessoas de fé, em cada época de sua história. É muito forte, por exemplo, na cultura hebraica e na religião dos judeus o fazer memória. Eles voltavam-se para os fatos do passado através de narrações e com isso eles atualizavam, tornavam presente hoje a ação de Deus que é uma ação salvífica. Os eventos salvíficos não são fatos que morreram com o passado, mas quando são recordados, estes fatos de salvação retornam com toda a força renovando a esperança, a fé e o amor de um povo chamado a acreditar na presença e na fidelidade de um Deus que constrói com seus eleitos uma aliança que é para sempre. Esse fazer memória é um tomar consciência da Presença que salva, é acolher a revelação. Ora, o Dabar Iahweh (a Palavra de Deus) é bem mais que uma palavra pensada, é um evento. A Dabar (palavra) promete um futuro, lança a pessoa no seu porvir, dando um sentido, um destino, a razão da existência. O ponto mais alto desta revelação aconteceu com Jesus Cristo, a Palavra de Deus que se fez carne a armou a sua tenda entre os homens (cf. Jo 1,1-14).

Assim, aderir à Palavra significa aderir a uma Pessoa, Jesus Cristo. A Palavra bíblico-cristã quer obediência, mais do que reflexão. A reflexão está em função da obediência, do ouvir para cumprir. Assim, Jesus Cristo é mediador e plenitude de toda a revelação, uma vez que ele é ao mesmo tempo, mensageiro e conteúdo da mensagem, o revelador e o revelado. A face de Deus é revelada na Palavra pela qual Deus se faz ver e conhecer. Uma vez que a revelação acontece na história, isso quer dizer que o tempo da revelação é um tempo de progresso. A progressividade da revelação divina indica a pedagogia de um Deus que deseja caminhar conosco e se determina em dosar a sua revelação à capacidade de compreensão do homem e à sua sensibilidade humana. Assim, as grandes verdades sobre Deus, sobre o homem, sobre a salvação-redenção, sobre a aliança entre Deus e seu povo, sobre a Igreja-povo de Deus se aprofundam e se purificam no decurso da revelação histórica. A vida humana é um processo gradativo, gradual e por isso é dinâmica.

A revelação vai exigindo a fé como resposta amorosa ao Deus que se revela. Por isso, ter fé significa crer e crer não se reduz a admitir uma ou mais doutrinas, aderir a uma ou mais verdades de fé sob a autoridade do Deus que se revela ou apenas saber que Deus existe ou mesmo viver uma vida descomprometida com a fé professada. Crer é, sobretudo, pronunciar e viver um sim que engaja todo o homem, no conhecimento e no amor, em alegre e real obediência a Deus. Ao Deus que se revela é devida a obediência da fé (cf. Rm 16,26). Trata-se de uma rejeição a tudo o que não corresponde ao compromisso com esta fé. A Igreja, comunidade dos batizados, reunidos pela unidade da Trindade, é feita por aqueles que ouvem a Palavra de Deus para pô-la em prática. Ao colocá-la em prática estes cristãos podem compreendê-la melhor. Deste modo, acolher a mensagem significa experimentá-la. Deus fala também por meio da existência de cada um, através dos grandes eventos da história contemporânea, desde que os cristãos saibam ler a vida e a história com os critérios que a história da salvação nos oferece, à luz da Palavra de Deus presente na Escritura. Deus entra na vida das pessoas, dando uma configuração, um sentido. Tendo por base a experiência histórica (pessoal, do mundo, da Igreja), o indivíduo que tem fé pode, iluminado pela Bíblia dar um sentido aos acontecimentos da própria vida. Assim, a vida de quem crê vai se tornando revelação para si e para os outros

As três funções da Palavra

"Tua Palavra Senhor é luz para os meus olhos e lâmpada para meus pés"
(Sl 118, 105)
Envio para ti, caro Filoteu, algumas reflexões sobre a Palavra de Deus. O tempo é propício, nestes dias em que a Igreja se debruça, no sínodo da Palavra, sobre este tesouro que o Pai, pelo Filho, no Espírito Santo nos concedeu. Talvez sejam estas reflexões dotadas de um conteúdo um tanto acadêmico, mas aposto no conteúdo...

As funções da Palavra



1.1. As três funções da Palavra:- A informação: a palavra informa sobre fatos, acontecimentos e coisas. É uma função mais objetiva e diz respeito à ciência, à didática e à historiografia.- é expressão: quem fala se exprime, ou seja, diz alguma coisa de si mesmo. Um rosto inexpressível não seria um rosto humano. Exprimir-se significa por em movimento o próprio ser, sair de si e correr os riscos disso. Significa também desmarcar pelo mínimo possível a própria interioridade. - é apelo: porque a pessoa humana é um ser que se relaciona. O Adão bíblico dá um nome aos animais mas não se relaciona aos animais “tu a tu”. Ele necessitava de um alguém que lhe fosse semelhante (Cf. Gn 2,18). A pessoa humana vive para o encontro e a comunicação é um poderoso veículo deste encontro. A palavra é uma ponte, um traço de união.


1.2. a palavra é criativaA palavra não é apenas sopro e som, mas possui uma força criativa, toca, prende liberta. Algo da transcendência do ser pessoa humana manifesta-se e comunica-se nela. A palavra dá a cada um a revelação de si na relação recíproca com o outro. O eu se revela a um tu e vice-versa e desta comunicação surge a unidade do nós. Nasce uma comunidade (comum unidade), bem diferente da massa de gente, um amontoado de anônimos que se reduz a uma mera coletividade.


1.3. A linguagem da amizade e do amor:Na amizade e no amor, as revelações se tornam mais profundas e tantas coisas escondidas saem do silêncio e se tornam partilha. O eu mais profundo vive seu revolucionário processo de doação na força da confiança que brota da liberdade. Essa revelação inédita vai desencadear o processo nunca acabado da revelação de si e do outro. Eu me conheço melhor na medida em que me revelo a um outro. O fascínio e a força da presença do amigo enchem de encanto e de eficácia a palavra pronunciada como revelação corajosa. Quem se revela sabe de estar sendo acolhido de maneira hospitaleira no coração do amigo que o escuta. Deus colocou o homem no mundo para que ele viva.

2. A PALAVRA AMIGA DE DEUS
"O Deus invisível, na riqueza do seu amor, fala aos homens como amigos e conversa com eles para os convidar e admitir a participarem de sua própria vida" (Constituição Dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II sobre a revelação cristã). Querendo revelar-se, Deus falou aos homens e mulheres usando uma linguagem humana para dialogar tendo em vista criar sólidos laços de amizade a fim de conduzir à comunhão consigo todos os que se abrirem à sua proposta de amor.Já no Antigo Testamento, a Bíblia expõe a ligação que Moisés tem com Deus: "O Senhor falava com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo" (Ex 33, 11). O escritor bíblico procurou exprimir a inexprimível intimidade de Deus com Moisés através do diálogo amigável, veículo de profunda comunhão. Moisés tem uma grande missão, uma enorme responsabilidade de conduzir o povo que fora libertado pelo poder de Deus da casa da escravidão no Egito. Este encargo explica a sede de contemplação que brota como uma torrente no seu coração. A revelação, antes de fazer conhecer alguma coisa, é um colocar-se diante de alguém, o Deus vivo em Jesus Cristo. A revelação é uma relação sobrenatural. Deus assumiu a iniciativa nessa comunicação: O Verbo de Deus se exprime com a Encarnação e depois com o Evangelho. A história da salvação narra precisamente este longo e variado diálogo que parte de Deus e mantém com o homem uma conversação variada e maravilhosa. Nessa conversa de Cristo com os homens, Deus faz compreender alguma coisa de si mesmo, o mistério de sua vida, absolutamente una na sua essência e trina nas Pessoas. Neste mistério Ele diz como deseja ser conhecido: como Amor e assim deseja ser honrado e servido. O diálogo se torna pleno e confiante. (AA 56, 1964).
Por isso, a resposta a esse diálogo é a fé. Crer em Jesus Cristo significa para o Evangelho de João, seguir Jesus, ou seja, assumir o seu projeto. Foi assim, que os discípulos tornaram-se amigos de Jesus, sobretudo porque Ele comunicou-lhes toda a revelação e, mediante o dom do Espírito Santo, fará com que compreendam.
Portanto:
4 ao revelar-se, Deus fala a linguagem da amizade e do amor. Deus chama e os chamados formam a assembléia dos convocados (ekklesìa)
4A Palavra de Deus se torna manifestação do homem a si mesmo, torna-se auto-compreensão. Conhecer a Deus necessariamente levará a pessoa a conhecer-se.
4 O homem conhece a si mesmo e a plenitude do seu ser e do seu destino não por aquilo que ele mesmo produz, procura ou obtém através das conquistas através da experiência ativa, mas ouvindo a Palavra de Deus. E a Palavra de Deus nos falará do Ser Divino, Pleno, total que fez o homem e a mulher à sua imagem e semelhança que também são seres humanos. Deus chama a pessoa a ser e depois fazer. O homem é e por isso faz e nunca faz e por isso é!
4 Deus quando se revela, isto é, fala de si, dá-se a conhecer para convidar as pessoas humanas a entrarem em comunhão com eles.
4 O objeto desta revelação é a vida eterna [incorruptível juventude, vida sem fim]. O modo como essa vida eterna se revela não é apenas com palavras, mas com sua presença ativa, com todo o seu ser. A Palavra de Deus é uma Pessoa (não um conteúdo doutrinal, apenas): Cristo, Palavra de Deus feita carne, é a grande manifestação do Pai.
4 A Igreja (comunidade dos que acreditam), antes de viver o papel de ensinar (ser mestra), deve assumir o papel de ser discípula (aprender, escutar). A Igreja perpetua e transmite tudo o que ela é, tudo que ela crê. Os instrumentos da tradição da Igreja são: sua doutrina, sua vida, seu culto.
4 A Sagrada Escritura deve ser lida como obra de linguagem total, ou seja, todos os elementos desta comunicação (cultura do povo, os significados, a realidade, enfim, todo o contexto que esclarece o texto) ajudam a delinear a obra em que Deus me fala.  A Palavra de Deus deve ser, antes de tudo, ouvida, ou seja, a espiritualidade bíblica deve ser primariamente uma espiritualidade da audição de um interlocutor presente. A audição é a primeira atitude do diálogo. E o desembocar espontâneo do fluir da revelação divina é a acolhida (obediência) por meio da fé.
4A Palavra de Deus apresenta a revelação de modo popular, simples, não científico por causa da mentalidade e da cultura do homem judeu (ligado aos limites do seu tempo). Assim, a pregação e a formação bíblica tem o papel de completar, atualizar o que foi dito de um modo que para nós é incompleto na forma de expressão. A essência do conteúdo permanece, mas a expressão deste conteúdo exige uma atualização.

A REVELAÇÃO DE DEUS ACONTECE NA HISTÓRIA
O Deus que se revela é um Deus que age; Ele é presença e atua em parceria com o homem por ele criado à sua imagem e semelhança.O tempo é a matéria prima da vida. Ora, o tempo se desdobra na história e esta mesma história é construída e narrada por homens que nascem crescem e morrem. Geram outras vidas que por sua vez continuarão o processo de construção do mundo, descobrindo coisas novas, oferecendo novas contribuições tanto positivas quanto negativas para a humanidade no seu processo histórico de auto-descoberta e autoconstrução.A Bíblia nos descreve este processo acontecendo a partir de homens e mulheres que foram construindo com Deus, dentro da história e nunca fora dela, a revelação e a salvação. Esta ação é carregada de comunicação. Palavra é sinônimo de ação em Deus. Por isso, a história acontece pela ação das pessoas no tempo. Ora, na história Deus se comunica e por isso age. Assim a história está cheia da comunicação divina: Ele fala, interpela as pessoas, entra em relação com elas. A expressão máxima da revelação de Deus encontra no seu Filho Jesus Cristo o ponto mais alto de sua atuação histórica. A chegada do Salvador foi uma verdadeira plenitude dos tempos. Essa revelação aconteceu quando Jesus se fez um alguém histórico (um alguém que está no tempo e no espaço, que cresce, sofre, se alegra, faz parte de uma cultura, fala uma determinada língua, etc).
Continua em uma próxima postagem...
Um abraço para você Filoteu. Meu desejo é que esta reflexão te faça amigo da Palavra de Deus e se sinta abraçado por Ela...
Pe. Marcos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

conscientes - consequentes - coerentes

DAR TUDO O QUE TEM

DAR TUDO O QUE SE É, DAR-SE SEMPRE

SEM JAMAIS ACABAR DE DAR-SE

- É A LIÇÃO PROFUNDA DE ALEGRIA E DE PAZ

QUE AOS AMIGOS DA TERRA, DÃO E DARÃO

PARA TODO O SEMPRE, OS TRÊS AMIGOS

INCOMPARÁVEIS QUE SE CONSUMAM NA UNI-

DADE. Dom Helder Câmara.





Caro Filoteu,





Nesta vida e em vista da vida futura, é preciso ser:





Solidamente consciente





Claramente conseqüente





Radicalmente coerente





E assim, liberto dos vitimismos, das initerruptas justificações, dos subterfúgios, das divagações esvaziantes, dos espiritualismos desencarnados e fideístas ou dos racionalismos materializantes, enfim, é preciso engajar-se em uma ruptura corajosa com tudo quanto te desumaniza ou te afasta da novidade revolucionária do Evangelho.





Seja a vontade do Senhor o teu pão, tua água, tua estrada e tua luz. Sem ela te perderás no caminho ou teu caminho será um mero atalho, tua vida, uma sobrevida fadada a ser morte, tua verdade condenada a ser uma mentira, uma falácia sagaz e enganadora, ferina em seus ardis.





Caro Filoteu, vida doada, longe de ser uma abstração vaga, constitui uma vivência cheia de vigor, em ritmo de retroalimentação, uma atitude efetiva e afetiva. Ante os fatos e apelos da realidade que envolve coisas, pessoas, organizações e estruturas, é mister contemplar Aquele que nos olha e seu mistério de amor. Ele é o Deus comunidade na unidade. Irradiá-lo nada mais é do que transbordá-lo de modo contínuo, como o copo debaixo de uma torneira aberta: nada mais é do que uma realidade cuja ocupação é deixar transbordar o que recebe! Eis nossa missão!





Ser consciente é viver na solidez desta verdade, na força infinita da substância de quem se revela e deixá-lo guiar, plasmar, formar, conduzir e conduzir quem somos e o que fazemos. É dar passos, fazer opções, dar rumos na clareza das opções, na nitidez da visão, no rumo da fé, no prumo da caridade, na âncora da esperança. É aderir, na sua totalidade, a sabedoria que brota do alto do pensamento do Pai e que se encarna, no vigor vivificante do Espírito, na baixeza da cruz, na pequenez e pobreza do presépio, na sublimidade inefável do sacramento do altar.





Ser consequente é medir todas as coisas na perspectiva da eternidade, do definitivo, lançando com destemor a profecia em forma de denúncia a tudo quanto camufla, desbota ou nega, sufoca ou impede a concretização initerrupta deste desejo de Céu e de Deus presente no homem e na mulher. Uma denúncia da ditadura do relativismo com todos os seus tentáculos paralisadores. Ter clareza é enxergar as coisas assim como são, em suas devidas proporções, em sua consistência, longe das ilusões fantasiosas, tendo o querer de Deus como metro!





Ser coerente é caminhar na busca incansável de ser quem somos chamados a ser. Significa não desistir nunca de uma radicalidade sadia, necessária, criativa, feita de totalidade, a qual, divergindo do sectarismo ou do radicalismo, tenciona ser um viver intensamente a partir das próprias raízes fincadas nas profundidades deste chão que é o alicerce de Deus....





Rezo por ti, Filoteu, para que isso aconteça em ti.





Te abençoo em nome d'Ele, nosso Amigo e Irmão, Senhor e Deus.





Pe. Marcos.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Ainda que....

De uma antiga oração hebraica:

Mesmo que a nossa boca estivesse cheia de hinos como as águas enchem o mar,
mesmo que nossa boca se enchesse de cânticos, como numerosas são suas ondas;
se nossos lábios estivessem cheios de louvor como se estende o firmamento no alto do céu;
ainda que nossos olhos fossem luminosos como o sol e a lua e nossos braços fossem longos como as asas abertas da águia em pleno vôo no céu, ainda que nossos pés fossem velozes como o dos cervos, nós nunca poderíamos agradecer-te o suficiente, ó Senhor nosso Deus, e bendizer o teu nome ó Altíssimo por um só dos milhares de miríades de benefícios e de maravilhas que Tu realizaste por nós e por nossos pais ao longo da história.

Deixo a ti, Filoteu, esta mensagem de louvor e ação de graças.

Bênção e abraço do Padre.

domingo, 5 de outubro de 2008

Os filoteus de outubro

Querido Filoteu

+ PAZ a ti!

Mês de outubro. Mês de alguns filoteus muito especiais: Teresinha, Francisco, Teresa e Margarida Maria. Pessoas que viveram a amizade de Deus em grau muito elevado, deixaram-se amar por aquele amor desconcertante e muito particular de Deus. Tudo nele é construido na gratuidade e na infinita liberdade, feita de soberania misteriosa e que vai além e muito além de tudo quanto pensamos, queremos, fazemos ou supomos.

A Trindade conduziu estes filoteus por caminhos estreitos, onde o esvaziar-se foi tomando conotações radicais, totalizantes. Tiveram que se abaixar, diminuir, deixar pelo caminho seguranças, cargas e cargos, certezas e afetos, deixar os pesos, as amarras, enfim, "... o que para mim era lucro eu o tive como perda, por amor a Cristo" (Flp 3, 7). Deus os submeteu, eles deixaram-se submeter, assumiram o doce jugo e por fim, Deus submeteu-se a eles, dando-se irrevogavelmente. Tornaram-se uma coisa só com o Amigo. É o que nos descreve Paulo: "para mim viver é Cristo" (Flp 1, 21), ou ainda "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2, 20). Com efeito, Ele não se relaciona com pedaços ou com partes de seus amigos, mas com a totalidade deles. Impressionante e nos faz refletir!

Estes filoteus me animam, me encorajam e me elevam, ao mesmo tempo me denunciam, me passam na cara certas coisas, me jogam no chão. Entenda bem, o problema não são eles, mas minha postura diante deles e do que eles escolheram e viveram. Ele toparam o desafio de viver a lógica sem lógica da gratuidade infinita de um Deus que ama, que é amor e por isso "não sabe calcular". Decidiram passar pela porta estreita do não saber, do não ser, do não ter, enfim do nada para na liberdade jogada na confiança e no abandono, saber, ser e ter segundo Deus. Acreditaram que é Deus quem operava neles o querer e o operar, segundo sua vontade (cf. Flp 2, 13). E estes filoteus assumiram a iniciativa de um "Deus (que) protagoniza a decidida aventura de relacionar-se com o homem, o que vai resultar na história real de uma profunda pertença mútua, no irrevogável 'para sempre' do Amigo ..." (ANDRADE, 2007, 32). Importa acreditar no poder desta amizade, pois ele é o Todo Poderoso, "cujo poder, agindo em nós, é capaz de fazer muito além, infinitamente além de tudo o que nós podemos pedir ou conceber" (Ef 3, 20).

Caro filoteu, pensei muito no comentário que a Elena, uma amiga que mora em Israel fez sobre Betânia, a cidade onde está a casa da amizade: "Betânia! Cidade muito suja e bagunçada, pobre e meio abandonada pelas autoridades palestinas por estar muito próxima de Belém que é território palestino". Eis um retrato de nossas Betânias interiores: sujas, bagunçadas, pobres, meio abandonadas por nossa falta de coragem e determinação em agir e mudar, próximas a Belém (casa do pão) que é Jesus, pão da vida, nossa vida, em território feito de gente sem poder. Afinal, somos alguns pobres diabos, degredados filhos de Eva, gente interesseira, sempre a mendigar as miseráveis consolações e gratificações que as criaturas venham a nos oferecer; Pasme só filoteu, a estes pobres diabos, Aquele que só sabe amar irrompe, quebra, rasga, interrompe, muda, desmancha para ser possível aquele mergulho na mentalidade outra por Ele proposta. Mas, mesmo assim, o Amigo insiste teimosamente em fazer acontecer esta experiência de amizade. Ouvi uma pessoa dizer que "o desejo que Deus tem de salvar o mundo é muito maior que todos os pecados do mundo". Ante esta insistência divina não me ponho a tentar entender. Acho mais razoável tentar de acolher e adorar. Estamos diante do mistério que nos transcende, vai além, muito além de nós mesmos...

Enfim, diante desta graça de eleição que repousa sobre nós, apesar dos pesares, faço minhas as palavras do profeta e do apóstolo: "Quem com efeito, conheceu o pensamento do Senhor? Ou quem se tornou seu conselheiro? Ou quem primeiro lhe fez o dom para receber em troca? Porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos! Amém" (Rm 11, 34-36, cf. Is 40, 13.28).

Um abraço e uma bênção do padre para você!