quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O REINO DA VERDADE E O CAMINHO DA LIBERDADE DOS SEGUIDORES DO REI



“És tu o rei dos judeus? Assim perguntou Pilatos a Jesus, após a cruel flagelação no pretório, ao que Jesus replicou com uma pergunta: “Estás dizendo isso por ti mesmo ou outros te disseram isso de mim?” (Jo 18, 33-34). A esta pergunta, vem à tona o anseio que o Senhor tem sobre o sentido a ser dado à sua soberana realeza. Com efeito, ao afirmar-se rei dos judeus, o Divino Redentor nega que é rei aos moldes de uma compreensão meramente humana, haja vista seu reino não ser deste mundo (cf. Jo 18, 36). Mas, com certeza Ele é Rei! (cf. Jo 18, 37). No entanto, o seu reino se realiza porque nele é atuante a verdade: “Quem está a favor da verdade escuta a minha voz”, diz Jesus (Jo 18, 37). Estar do lado da verdade significa acolher a revelação do Pai através do Filho e sob a guia segura de seu Espírito. Não vale a neutralidade. O julgamento que o divino juiz flagelado estabelece diante de Pilatos é de separação; respostas evasivas como a do governador romano (e de todos quantos ficarem em cima do muro) indicam a não-aceitação desta verdade. Longe desta onda de relativismos vagos e amorfos, a verdade revelada é sólida, estável, plena e eterna. E esta, ao encontrar a pessoa, ao vir ao encontro de cada homem e mulher evoca e requer uma experiência pessoal, crescente, provocadora de respostas existenciais concretas e comprometidas. E tal comprometimento não pode vir a não ser de uma experiência com esta verdade. Dirá João Paulo II:

“A verdade da revelação cristã, que se encontra em Jesus de Nazaré, permite a quem quer que seja perceber o “mistério” da própria vida” (Fides et Ratio, n. 15).
Os critérios de liderança, ou de soberania, de poder e autoridade, conforme o pensamento de Jesus, caminham na contramão das mentalidades e procedimentos deste mundo. As pessoas que chegam ao poder correm o sério risco de fazer dele um instrumento egoísta da busca de si mesmo, uma corrida atrás de privilégios, trampolim para uma ascensão sem fim, estrelismo, jogo de influências, auto-projeção, a mania de tirar vantagem das situações e impor-se. A vaidade é uma ilusão mentirosa e se assemelha à fumaça. Será dispersa pelo Vento do Espírito: “Depôs do trono os poderosos e exaltou os humildes” (Lc 1, 52), dirá Maria, a humilde serva do Senhor. Quando as pessoas vivem na verdade, necessariamente são livres e por isso amam. Livres para amar, serão felizes de modo estável, serão felizes efetivamente. A verdade de Deus conduzirá o homem e a mulher à humildade que por sua vez, longe dos complexos de inferioridade ou dos medos infantis, gera um senso de responsabilidade em agir fazendo o melhor uso dos bens recebidos e administrados. Ser humilde é ser consciente de que tudo foi dado e, na condição de administradores, tudo há de devolver Àquele que é o legítimo proprietário de tudo quanto existe. Esta devolução acontecerá no dia da morte. Por conseguinte, a humildade se mede muito pela liberdade em se auto-perceber como existência doada, ser inacabado, imperfeito, em processo, aprendiz e eterno discípulo que nada sabe e quer aprender. Ser humilde significa ser desapegado por manter sob controle o instinto de posse sob a certeza inequívoca da efemeridade de tudo, de todos. Assumir-se peregrino, viajante significa inexoravelmente ter uma meta. Ter a eternidade por alvo não é presunção, mas destino de quem centrou a vida no que é definitivo. Alvo de quem? De todos quantos vivem na verdade. Presunção seria querer alçar o livre vôo da contemplação da verdade com as asas da razão e da fé (cf. FR Introdução) se tal não nos fosse dado por um chamado divino, uma eleição gratuita; Tal iniciativa não é em função de méritos pessoais, mas na força de uma escolha divina: “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi e vos destinei para que vades e produzais fruto e o vosso fruto permaneça” (Jo 15, 16). Na eleição dos discípulos o “Senhor subiu ao monte e chamou quem ele quis” (Mc 3, 13).
Que Reino é esse que é dos pequeninos, dos pobres, dos mansos, dos aflitos por não verem Deus amado, dos que têm fome e sede de santidade, dos perseguidos por causa do Evangelho e da justiça, dos que promovem a paz inquieta e plena? (cf. Mt 5, 1-12). Que Reino é esse que responsabiliza e engaja as pessoas, fazendo-as instrumento de transformação, revolucionárias com as armas da oração, do amor oblativo que se faz serviço e transforma a vida do crente em um discipulado sem fim? (cf. Mt 5, 13-16; 23, 8-12). Eis o Reino que não é deste mundo. Com efeito, as ideologias, as mentalidades egoístas e manipuladoras, doutrinas falsas e opiniões enganosas, propostas sedutoras de uma felicidade construída sobre a areia movediça da facilidade, informações comprometidas com projetos obscuros onde o prazer, o poder e o ter dão as coordenadas da pseudo-segurança fugaz, as falácias e meias-verdades, tudo isso vai gerando fragmentações nos corações humanos. “A visão orgulhosa do homem será humilhada e a soberba dos grandes abatida; naquele dia, somente o Senhor será exaltado” (Is 2, 11).
A verdade: contemplá-la, amá-la, servi-la generosa e fielmente, assimilá-la ao ponto de deixar-se governar por ela, haverá de ser o grande meio para atingir a mais genuína liberdade, e, a partir desta, chegar à felicidade. Escutar a verdade é obedecê-la. Ao lançar-se na escuta, a pessoa de fé se põe em uma postura de acolhida da Palavra que ilumina e conduz, alimenta e faz caminhar. Vale considerar o que São Bernardo ensina: “Guarda, pois, a palavra de Deus, porque são felizes os que a guardam; guarda-a de tal modo que ela entre no mais íntimo de tua alma e penetre em todos os teus sentimentos e costumes. Alimenta-te deste bem e tua alma se deleitará na fartura. Não esqueças de comer o teu pão para que teu coração não desfaleça, mas que tua alma se sacie com este alimento saboroso. Se assim guardares a palavra de Deus, certamente ela te guardará. Virá a ti o Filho em companhia do Pai, virá o grande Profeta que renovará Jerusalém e fará novas todas as coisas” (S. BERNARDO, Sermão 5 In Adventu Domini, 3). Que esta palavra, portanto, nos alimente e vivifique a nós súditos de Sua Divina Majestade.

domingo, 18 de outubro de 2009

servos por amor gratuito!


LECTIO DE 18/out/2009
Mc 20, 35-45

UM PAPO SERÍSSIMO! Segura aí! Não seja covarde, nem medroso e não invente de se esconder. NÃO FUJA! LEIA, REZE, PENSE, DECIDA!
A palavra de hoje nos insere no vértice da vocação cristã. A ambição dos discípulos, direcionada aos cargos ou lugar de honra, ou mesmo afirmando e buscando garantir o triunfo junto do Messias revelam o coração humano e suas megalomanias (as manias de ser grandão, o maioral, o rei da selva - tendências leoninas). Parece este leão que se julga do dono do pedaço, abafando e arrasando!
O que pedis? O que quereis que eu vos faça? Esta pergunta de Jesus é muito séria e muito importante. Ele quer fazer e quer nos atender. Mas, fica o questionamento: qual o conteúdo do nosso querer? Que desejamos? Onde se inclina a nossa vontade? Para onde nos leva o nosso coração? Que que você anda querendo. Palha, lodo, lama, ouro, prata? Sabe distinguir o ouro da prata? a prata do lodo? o lodo da palha? O que é importante? O que é que tem valor? Você sabe? Quais os critérios que você usa?
Ao ouvir a solicitação dos discípulos na linha da grandeza, dos cargos, das facilidades e do triunfalismo, a resposta do Mestre reconduz a compreensão da vitória e da primazia que cada discípulo do Reino deve almejar.
Ele não oferece cargos, nem prestígio, nem honras, nem mesmo o sucesso: ele oferece o cálice da ira o qual deve ser esgotado (cf. Jr 25, 15-29; Is 51, 17). Os dois discípulos entenderão isso: Tiago morrerá mártir de martírio vermelho (será morto por Jesus e pelo Evangelho derramando o próprio sangue cf. At 12, 1-12) e João terá que sofrer por Jesus e no seus escritos deixará um inenarrável testemunho da primazia do amor-caridade-serviço. Isso é algo de enaltético! Só o tchekslovekibite!

Na Bíblia o Peregrino há um comentário belíssimo e eu o transcrevo aqui:
“... a comunidade do Messias rege-se por princípios opostos aos do mundo. Nela, a ambição será substituída pelo espírito de serviço. Não é que o serviço seja meio para conseguir o primeiro lugar, mas que no serviço reside a dignidade. Não em virtude de um oráculo individual (como em Gn 25, 23), nem por uma desordem social (como diz Ecl 9, 6-7), mas por um preceito e pelo exemplo de Jesus (visto como servo de Is 53, 10).
Na menção do cálice e da imersão, o cristão pode ler nas entrelinhas uma alusão ao batismo e à eucaristia como participação na paixão de Cristo (Rm 6, 3-4; 1Cor 11, 26)”

(L. A. SCHöKEL, Bíblia do Peregrino, 2ª ed., S. Paulo, 2006, p. 2426).

Os primeiros lugares no Reino a quem caberá? Meu Deus! Livre-nos o Senhor desta pergunta: é para quem o Senhor quiser. Não nos cabe ambicioná-los. Quem os ambiciona, deles se exclui! Cabe-nos amar, servir, dar a vida. O que vem após isso, bem, não é da nossa conta. Basta que Deus saiba e na liberdade infinita que lhe caracteriza faço o que bem entender.
Alguém disse que o caminho da fidelidade a Deus por medo do inferno é o caminho dos escravos. A busca das recompensas é o caminho dos mercenários. A filiação amorosa e confiante, o serviço generoso e desinteressado é o caminho da união perfeita para com Deus aprofundarão o zelo e o desejo de dar-se servindo. A confiança cristã não se baseia só na cruz, senão a cruz se tornará uma ideologia, monstruosidade. Atrás da cruz está o amor do Pai. É este amor que nos escolheu em Cristo e para Cristo. Nós mesmos, somos, para o Cristo, o dom que o próprio Pai tem reservado ao seu querido Filho. Idéia fantástica e inusitada: Nós o presente do Pai para seu Filho!
Jesus toma a contramão. E tome barruada! Responde às perguntas dos discípulos oferecendo a proposta radical: dar a vida! Fazendo a proposta da pequenez: ser escravo dos irmãos! Fazendo a proposta do amor e da realeza divina: o serviço. Sem minoridade não existe fraternidade.
Nosso Senhor conhece o coração com sua mania de grandezas. O homem é feito para se levantar da sombra e andar erguido, dentro da luz. Mas o coração humano se perverte e usa a grandeza para diminuir o outro, servir-se do outro, explorar o outro. Parece que, somente amarrando o outro na sua insignificância, a pretensa grandeza parece grande. Terrível! Quem faz isso é, aos olhos de Deus, um jeguenow (burro).
Jesus segue na contramão: quem governa as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam. Como é triste ver que quem foi chamado e eleito ou de algum modo chegou ao poder, ao invés de servir o povo, serve-se do povo. Ao invés de buscar o verdadeiro bem das pessoas, pelo populismo ou pela opressão tirânica, alguns governantes vão ao encontro de interesses que deixam a vida mais cômoda, não buscam o melhor e o mais certo, mas o mais fácil e mais gratificante para o egoísmo humano. E, às vezes, buscam o que é cômodo para si, com a meta de unicamente manter-se no poder. Para manter-se no poder são capazes de tudo. Será que isso existe ainda hoje?
Nosso Mestre aponta o caminho certo para os seus discípulos: o serviço, assim como ser escravos dos irmãos e irmãs. Serviço da verdade, serviço da caridade. O cristão, ao ser comparado ao sal e à luz (cf. Mt 5, 13-16) recebeu de Jesus uma imensa responsabilidade. Agir e ser elemento de transformação. O discípulo de Cristo aceita a desafiante proposta de ser diferente e fazer a diferença. Iluminando e dando sabor, preservando da corrupção a vida cristã é marcada por um dinamismo enorme. Trata-se da dinâmica do compromisso, da força da responsabilidade. Pense num negócio chopanestérico e anaximândrico, panelático e extragótico! Algo supimpa e inoxidável!
A disponibilidade ao serviço do outro é a verdadeira medida da grandeza e precedência na comunidade. Toda função de governo deve estar, exclusivamente a serviço da comunidade. Como Cristo é fonte de Deus em nós, assim nós também, pelo serviço, queremos ser para os outros, fonte de felicidade e confiança. A gratuidade é a lei de Cristo! Quem mais serve os outros sem recompensa, tem semelhança com Cristo. Por isso, quem não vive para servir, não serve para viver. Quem topa qualquer parada, não para em qualquer topada.
Um abraço pra vc filoteu!

sábado, 17 de outubro de 2009

Pobres que valorizam o dom de Deus


Em nenhuma hipótese, se confunda desapego com desprezo. O livro do Gênesis, como vimos, nos mostra o quanto Deus se alegra por ter dado vida a todas as obras da criação e o quanto ele enfatiza a bondade e o valor das obras surgidas de suas mãos. O apóstolo também ensina: «Pois tudo o que Deus criou é bom e nada é desprezível»[1]. «Foi pela fé que compreendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus. Por isso, o mundo visível não tem a sua origem, em coisas manifestadas»[2].
E neste mistério da ação de Deus nos lançamos pela fé nos braços d'Aquele que na sua invisibilidade se deu a conhecer e, mergulhados na nossa finitude, reconhecemos cheios de gratidão a grande obra que o Senhor fez, dando-nos a vida.
Mesmo às apalpadelas, seguramos e mantemos acessas a lâmpada da fé e esperamos vigilantes o seu retorno a exemplo das virgens prudentes[3]. E essa vigilância se consolida e se arma dos meios de uma intensa fé que se defende de toda concepção racionalista ou materialista de um mundo que surge e se desenvolve sem Deus, negando-lhe a existência ou vivendo como se Ele nem existisse, considerando-O um ser distante, um alguém ausente, uma entidade a ser simplesmente ignorada e desprezada.
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[1] 1Tm 4, 4.
[2] Hb 11, 3.
[3] Mt 25, 1-13// Lc 12, 35-38. O tema da vigilância é muito enfatizado por Mt 24, 42-44; Lc 12, 35-40.

Reconhecer o nada




O reconhecimento do nada é a verdade consumada. Isso nos faz caminhar. Há de ser o antídoto poderoso contra certas formas explícitas ou camufladas de orgulho e de soberba, ajudará a pessoa a não viver de ilusões, nem na mentira. As dificuldades serão não somente suportadas, mas também superadas e até amadas com maior facilidade. E isso só acontece no coração humilde, despojado, vazio de si, da própria glória. Por isso, ocorre compreender que «só a humildade tem algum poder. Não a humildade adquirida por raciocínios, mas uma luz clara e verdadeira que num instante capta o que o trabalho da imaginação não alcançaria por muito tempo, acerca do nosso nada absoluto e do bem infinito que é Deus»[1].
Esse nada, por mergulhar a pessoa na verdade, criará um clima de serenidade e de alegria, porque o despojamento livra o coração de tantas preocupações inúteis.
«É humilde, ensina S. João da Cruz, quem se esconde em seu próprio nada e sabe abandonar-se a Deus»[2].
Não existe auto-estima sem um mergulho corajoso na verdade de Deus e na nossa própria verdade. A autopercepção, além de positiva, há de ser verdadeira, fundada na realidade, longe das ilusões fantasiosas e enganosas. Tudo isso fará com que a pessoa tire os olhos das criaturas, no que diz respeito a esperar muito delas, nas suas capacidades e talentos, na santidade ou nas virtudes que possam ter, das vantagens e gratificações que sua amizade possa nos oferecer. Os olhos do que vive na verdade se fixarão em Deus como o único sumo Bem. As pessoas humanas serão vistas na sua verdade e realidade.

Declama com imensa sabedoria a grande doutora, Teresa de Jesus:

«Formosura que excedeis
A toda formosura,
Sem ferir, que dor fazeis!
E quão sem dor desfazeis
O amor pelas criaturas!

Ó laço que assim juntais
Dois seres tão diferentes
Por que é que vos desatais
Se, atado, em gozos trocais
As dores mais pungentes?

Ao que não tem ser, juntais
Com quem é Ser por essência
Sem acabar, acabais;
Sem ter o que amar, amais;
E nos ergueis da indigência
»[3].


Deste modo não haverá possibilidade de se espantar ou se escandalizar com os erros ou fraquezas que o outro venha a manifestar. As decepções serão sobremodo redimensionadas e trabalhadas, se é que existirão. Esperar em Deus significa não esperar em ninguém mais, em nada mais a não ser o próprio Deus.
«A justa "estima" de si mesmo é, portanto esta: reconhecer o nosso nada! Este é o terreno sólido ao qual tende a humildade! A pérola preciosa é precisamente a sincera e pacífica persuasão de que, por nós mesmos, não somos nada, podemos pensar nada, não podemos fazer nada»[4]. Existe, portanto, um Doador e o que recebe agradecido e feliz esta doação. Por amor, administra esta doação no melhor dos modos. Com muita propriedade afirmou um certo autor: «Somente quando me volto para o doador de tudo, com o coração de mendigo que sabe ser imensamente pobre, que sabe não ser mais que puro dom, somente então estou na dimensão que me corresponde»[5].
O nada nunca pode chocar quem vive na verdade. A verdade nos levará a conhecer o Tudo de Deus e, por conseguinte, nós como felizes beneficiados, pois nada somos, nada temos, nada podemos. E essa mentalidade levará a pessoa a viver numa profunda humildade, pois a humildade é a mais consumada verdade. Assim nos ensina S. Teresa de Jesus: «Deus é a suma verdade – e ser humilde é andar na verdade. Grande verdade é que de nada de bom procede de nós, a não ser miséria de ser nada. Quem não entende isso anda na mentira. Quem melhor o entender, mais agradará à suma Verdade, porque anda em sua presença»[6].
A auto percepção positiva de si mesmo deve ajudar a pessoa a se colocar na linha de ter o sentido das próprias limitações e criar no homem a disposição para a aceitação realista de si mesma. Essa disposição de ânimo, que se traduz numa sadia humildade e na simplicidade autêntica, vai levando a pessoa a encarar o outro e Deus de modo muito maduro e evangélico. O outro é acolhido e respeitado como um tu que é diferente, talvez mais aquinhoado do que eu e, isso nunca será razão para invejas, ciúmes, desconfianças e perseguições. Ao contrário, será algo como que se alegrar, a ser considerado positivo. A pessoa madura não se compara e se perceber no outro predicados e virtudes que ela não tem, isso não a ameaça, pois ela se aceita e não quererá ser o outro, alegra-se, conserva a paz na serenidade e se esforça para construi-se enquanto pessoa: ser único e irrepetível. O homem que se aceita, outrossim, se percebe e se acolhe a si mesmo como um ser limitado, coloca-se em justa dependência de Deus e em correspondente sentimento de segurança e confiança[7]. Será um alguém que entendeu bem o sentido de ter vindo do pó da terra[8]. Conhecerá a sua criaturalidade e sua contingência. Não viverá de ilusões e no engano do orgulho. Será humilde, será feliz.
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[1] S. TERESA, Caminho, c. 32, n.12. Os grifos são meus.
[2] S. JOÃO DA CRUZ, Ditos de Luz e Amor, n. 173 in P. SCIADINI (org.), Obras Completas, Vozes/Carmelo Descalço do Brasil, Petrópolis, 20006.
[3] SANTA TERESA, carta 165 in P. SCIADINI (org), Obras Completas, ed. Carmelitanas/Loyola, S. Paulo, 1995 . A santa escreve este poema em uma carta dirigida a seu irmão, D. Lourenço de Cepeda.
[4] R. CANTALAMESSA, A vida sob o senhorio de Cristo, Loyola, 19964, p., 194.
[5] CABRA, Amarás com todas as forças, 11.
[6] S. TERESA DE JESUS, Castelo interior ou moradas, VIas moradas, c. 10, n. 7.
[7] Cf. D. CASERA, Psicologia e aconselhamento pastoral, Paulinas, S. Paulo, 1985, p. 61.
[8] Cf. Gn 2, 7.

A pessoa humana e sua dignidade



Aos homens e mulheres, criados à imagem e semelhança de Deus foi confiado o domínio de toda a criação[1] e lhes foi concedido o dom de serem pessoas, isto é, seres irrepetíveis, incomparáveis. A relação com Deus assume uma perspectiva de similitude geral de natureza: inteligência, vontade, poder[2]. «e o fizestes pouco menos do que um deus, coroando-o de glória e beleza. Para que domine as obras de suas mãos sob teus pés tudo colocaste»[3]. Por isso, professamos que «todo homem e toda mulher, por mais insignificantes que pareçam, têm em si a nobreza inviolável que eles próprios e os demais devem respeitar e fazer respeitar»[4].

A grandeza e a dignidade da pessoa humana faz brotar a possibilidade de buscar razões, buscar um sentido para tudo o que existe. Poder ir até as causas mais profundas, explicações que exigem por sua vez mais respostas, para novos e ininterruptos questionamentos que nascem.
«Os animais do campo, comenta S. Agostinho, sejam grandes ou pequenos, a vêem, mas não podem fazer-lhes perguntas. Não lhes foi concedida razão capaz de julgar mensagens dos sentidos. Aos homens, porém, é dado indagar para perceberem o Deus invisível através da compreensão das coisas criadas»[5].

Deus o abençoe e ajude a cultivar o senso desta beleza e desta dignidade: os que foram criados à imagem e semelhança de seu Criador!

[1] Cf. Gn 1, 26-27.
[2].Cf. Bíblia de Jerusalém, nota n, p.32.
[3] Sl 8, 6-7.
[4] CELAM, Evangelização no presente e no futuro da América Latina. Conclusões da III Conferência geral do Episcopado Latino-Americano, 13-02-1979 n. 317. Editado pelas Paulinas, S. Paulo, 1979. Usaremos doravante a sigla DP = Documento de Puebla.
[5] S. AGOSTINHO, Confissões, L.10, n.10.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

o pobre Lázaro: uma reflexão!




As exigências da justiça social no Evangelho: o exemplo de Lázaro, o pobre.

«havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e cada dia se banqueteava com requinte. Um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto de úlceras. Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico... e até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado.
Na mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seu seio. Então exclamou: “Pai Abraão tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou torturado nesta chama”. Abraão respondeu: “Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante tua vida, e Lázaro por sua vez os males; agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. E além do mais, entre nós e vós existe um grande abismo, a fim de que aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o possam, nem tampouco atravessem de lá até nós”.
Ele replicou; “Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento”.
Abraão, porém respondeu: “Eles têm Moisés e os Profetas: que os ouçam”. Disse-lhe ele: “Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se arrependerão”. Mas Abraão lhe disse: “Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão»
[1].

Este texto, todo transcrito nesta postagem tem como objetivo mostrar a responsabilidade e o compromisso dos cristãos, especialmente os que possuem mais recursos, neste processo de administrar os bens de Deus. Todo este capítulo 16 de Lucas é uma inteira catequese sobre o uso das riquezas. Trata-se de uma parábola proposta de considerar a condição presente à luz da eternidade.
O homem rico que usava mal dos seus recursos materiais, porque o seu egoísmo profundo o centralizava em si mesmo, nas próprias comodidades e nos próprios caprichos é um ensino forte, exigente, comprometedor. Como se percebe, é um alguém sem nome, um anônimo nesta história de salvação uma vez que no seu egoísmo, ele se excluiu da salvação de Deus. Este rico é imagem de um alguém despersonalizado, em vista de sua existência falida, esterilizada, tornado infrutífero pela sua centralização em si mesmo. Não pensar nos outros necessariamente significa ignorar o próprio Deus, Ele que é uma comunidade, a plena comunhão, a partilha, diversidade e unidade no seu mistério trinitário. O eu se descobre relacionando-se com um tu, para formar um nós. Quem não se relaciona não ama e quem não ama não pode descobrir-se. O rico ficou conhecido como epulão, isto é, banqueteador, um comilão. Como dizia Paulo, «seu fim é a destruição, seu deus é o ventre, sua glória está no que é vergonhoso, e seus pensamentos no que está sobre a terra»[2]. Jesus tira o pobre do anonimato: ele tem um nome, ele é alguém, seu nome é Lázaro que significa “Deus ajuda”. Fome e doença o fazem prostrar-se diante da porta do rico, esperando de matar a fome de tudo que cai na mesa do rico, esperando de matar a fome de tudo que cai da mesa farta do abastado egoísta. Até mesmo o cachorro tem piedade de Lázaro e o rico não percebe, é negligente.
Esta parábola nos oferece um quadro feito de imagens muito sugestivas, simples, de tonalidades fortes, sem detalhes ou refinamentos literários. É por isso que nos obriga a buscar sinceramente o essencial. De fato, no tempo o homem decide o seu destino eterno, vida ou morte, e não existe outra possibilidade de opções. Quem confia em si mesmo e em uma felicidade egoísta, construída com as próprias mãos, entra nas trevas e desde já é um cego, ao ponto de não ver o mendigo sentado à porta de casa.
O silêncio do pobre mendigo parece ser o traço característico do vulto de Lázaro. Duramente provado pela vida, descuidado por aqueles que poderiam ajudá-lo, ele se cala. Nenhuma palavra contra Deus ou contra os homens. Nem rebelião, nem críticas, nem inveja. A morte chega para Lázaro como uma libertação. O sono que desfecha o percurso terreno se apresenta como um divisor de águas implacável, determinante e sob a luz inatacável da verdade que brota de Deus cada qual segue o seu infalível destino eterno. Cada um colherá o que plantou.
Jesus retira o véu e nos introduz na eternidade mostrando-nos o grande banquete da eternidade. Lázaro é um dos destacados comensais. É como diz a Escritura: «Levanta do pó o fraco e do monturo o indigente, para os fazer sentarem-se entre os nobres e colocá-los num lugar de honra»[3]. Oposta é a sorte do rico que entre os tormentos infernais vê o pobre do outrora e ousa pedir auxílio para sua inexorável pena. O ardor lhe devora o paladar, o mesmo paladar que antes de deleitava em finas iguarias. As opções da vida presente selam de maneira definitiva a imutável as condições da vida eterna. Por isso, como o apóstolo Paulo, o cristão pensa e vive em função da eternidade: «Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos ansiosamente como Salvador o Senhor Jesus Cristo, que transfigurará o nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso, pela força que lhe dá poder de submeter a si todas as coisas»[4].
Nem mesmo um milagre como a ressurreição de um morto – diz Jesus fazendo alusão a si mesmo – poderia aliviar o endurecimento do coração de quem incessantemente se recusa a escutar e levar à sério o que dizem as Escrituras. Quem converte e salva não são necessariamente os prodígios (até a ressurreição de Lázaro[5], da filha de um chefe[6], do filho da viúva[7] e do próprio Senhor[8]) não foram suficientes para convencer as pessoas fechadas e de coração duro. Sobre estas dificuldades da aceitação das óbvias evidências da ressurreição do Senhor por parte das lideranças religiosas do tempo de Jesus, se percebe o quanto essa verdade é grande. Eles tiveram uma ótima oportunidade de tornarem-se testemunhas da ressurreição de Jesus e permaneceram expectadores que preferiram vantagens materiais, prestígio e acomodação. Caminharam na mentira. Por isso, nem a ressurreição do Senhor para estes conseguiu mudar os rumos de uma opção direcionada por um coração endurecido. Somente um encontro silencioso, humilde, orante e meditativo, reflexivo e contemplativo com a Palavra de Deus. Um encontro que leve a pessoa a se dispor a viver e transbordar o mistério contemplado, somente isso poderá levar a uma transformação consistente de quem necessita de encontrar-se com o perdão e a graça revigoradora de Deus. São Luís Gonzaga, outrora nobre, fez-se religioso; ele reflete com muita sabedoria e precisão sobre esta realidade: «Não devemos blasonar por causa do nosso nascimento, porque no fim da vida as cinzas de um príncipe não se distinguem das de um pobre qualquer!
Quem mais alto está por destino do nascimento, pela riqueza de bens, pela elevação da cultura e do engenho, tanto mais deve prestar contas a Deus dos seus atos e da sua vida.
Quanto menor do que os outros o homem se fizer, tanto maior será, porque quanto mais alguém é humilde, tanto mais semelhante é e chegado a Cristo, o qual será acima de todos»[9]. Nesta mesma linha S. Gregório Magno ensina: «Que cada um seja juiz equilibrado entre si e os pobres. Que uma comiseração alegre e segura descarte qualquer falta de confiança; e aquele que ajuda ao indigente compreenda que está dando a Deus a esmola que distribui»[10].
Comenta o doutor místico: «Os sabores que deliciam o paladar ocasionam diretamente gula e embriaguez, cólera e discórdia, falta de caridade para com o próximo e os pobres, como teve para com Lázaro aquele mau rico, que se banqueteava cada dia esplendidamente (Lc 16, 19). Daí nascem ainda as indisposições corporais, as doenças, e também os movimentos desregrados, porque se aumentam os incentivos da luxúria. Por sua vez, fica o espírito como submerso em grande torpor; o desejo e o gosto dos bens espirituais diminui de tal sorte que já não os pode suportar, nem mesmo se deter ou se ocupar neles. Esse gozo produz ainda o descontentamento de muitas coisas, distração dos demais sentidos e do coração»[11].Lázaro é acolhido pelos anjos do céu e Deus quer que os Lázaros de hoje sejam acolhidos pelos anjos da terra que são os cristãos os quais como mensageiros do Senhor devem assumir a realidade forte e exigente que somente a fé permite de enxergar: Lázaro é Jesus, o Cristo, disfarçado. Se lermos atentamente o texto de Mateus a respeito do juízo universal poderemos nos convencer disso[12]. Com efeito, uma figura sobrenatural emana da figura de Lázaro: é Jesus o qual não considerou um tesouro imperdível a sua natureza divina, mas se fez pobre para nos fazer participantes dos seus bens. Seu eterno e infinito amor O faz apresentar-se nas vestes da humildade e o fez atravessar o abismo existente entre o céu e a terra. E Jesus se senta à porta do nosso coração e bate... : «Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo»[13]. Que Ele não permaneça faminto nos irmãos por não termos aberto para ele a porta do nosso coração como foi o caso do rico epulão.
[1] Lc 16, 19-31.
[2] Flp 3, 19.
[3] 1Sm 2, 8.
[4] Flp 3, 20-21.
[5] Cf. Jo 11, 1-44.
[6] Cf. Mt 9, 18-19.23-26. Veja-se também Mc 5, 21-24.35-43 e Lc 8, 40-56.
[7] Cf. Lc 7, 11-17.
[8] Cf. Mt 128, 11-15.
[9] R. BRUNELLI, Um homem chamado Luís, Loyola, S. Paulo, 1991, p. 113.
[10] S. GREGÓRIO MAGNO, Sermão sobre as coletas, XI sermão in Sermões, Paulus, S. Paulo, 1996, n. 2.
[11] S. JOÃO DA CRUZ, Salita del monte Carmelo, L. III, cap. 25.
[12] Cf. Mt 25, 31-46.
[13] Apc 3, 20.

A justiça na Escritura Sagrada

Como poderemos compreender a justiça a partir da Sagrada Escritura? A própria Escritura fala por si. Os profetas, Jesus, os apóstolos foram pregoeiros deste elemento fundamental do cristianismo. Não se pode entender o discipulado para com a pessoa de Jesus sem a comunhão de bens, sem o devido desprendimento em função de um bem maior que é o bem de todos.

A Escritura, na força dos profetas exprime um grito fortíssimo em favor dos fracos, dos excluídos e oprimidos. Uma das vozes mais eloqüentes é a do profeta Amós quando denuncia aqueles que enganam, roubam com balanças adulteradas, os que compram o fraco com prata e o indigente por um par de sandálias[1]. O profeta Miquéias denuncia os ricos cheios de violência, as mentiras dos habitantes e as falsidades[2]. O profeta Isaías empresta seus lábios para Deus denunciar o seu povo: «Ai dos que promulgam leis iníquas, os que elaboram rescritos de opressão para desapossarem os fracos do seu direito e privar da sua justiça os pobres do meu povo, para despojar as viúvas e os órfãos»[3]. A literatura sapiencial também aborda esta realidade: «Ao homem do seu agrado ele dá sabedoria, conhecimento e alegria; mas ao pecador impõe como tarefa ajuntar e acumular para dar a quem agrada a Deus»[4].

O Novo Testemento encontra em São Tiago um caloroso defensor dos pobres. Ele já afirmava, na sua epístola, em tom de denúncia: «Meus irmãos, a vossa fé em Nosso Senhor Jesus Cristo glorificado, não deve ser admitir a acepção de pessoas. Assim, pois, se entrarem em vossa reunião duas pessoas, uma trazendo um anel de ouro, ricamente vestida, e a outra, com suas roupas sujas e derdes atenção ao que se traja ricamente e lhe disserdes: “Senta-te aqui neste lugar confortável” enquanto dizeis ao pobre: “Tu fica em pé aí, ou então: “Senta-te aí em baixo do estrado dos meus pés” não estais fazendo em vós mesmos discriminação? Não vos tornais juízes com raciocínios criminosos? Atentai para isto, meus irmãos: não escolheu Deus, os pobres em bens para serem ricos na fé herdeiros do Reino que prometeu ao que amam? E, no entanto, vós desprezais o pobre! Ora, não são os ricos que vos oprimem, os que vos arrastam aos tribunais? Não são eles os que blasfemam contra o nome sublime que foi invocado sobre vós? (...). Mas se fazeis acepção de pessoas cometeis um pecado e incorreis em condenação da Lei como transgressores»[5]. Prosseguindo sua denúncia profética, São Tiago nos ajuda a ver a gravidade de uma postura de dependência das riquezas quando estas submetem o rico ao ponto deste oprimir e explorar os mais pobres. Falaremos mais adiante destes que até ajudam e se tornam benfeitores de obras de caridade, porém nem podem imaginar a idéia de transformação das estruturas injustas e pecaminosamente desiguais. Noutras palavras, as soluções paliativas, imediatas podem ser mantidas, mas que as vítimas permaneçam para que o lucro e as vantagens não sejam comprometidos. A esses, a denúncia vigorosa do apóstolo se faz ouvir: «Pois bem, agora vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que estão para vos sobrevir. A vossa riqueza apodreceu e as vossas vestes estão carcomidas pelas traças. O vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados e a sua ferrugem testemunhará contra vós e devorará vossas carnes. Entesourastes como que um fogo nos tempos do fim! Lembrai vos de que o salário do qual privastes os trabalhadores que ceifaram os vossos campos, clama e os gritos dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos, vivestes faustosamente na terra e vos regalastes; vós vos saciastes no dia da matança»[6].

João, o evangelista, que antes proclamara que «Deus é amor»[7] afirma que viver a vida de Deus significa também amar. Este amor, longe de especulações ou sentimentalismos vazios e alienantes significa não amar apenas com palavras e com a língua, mas com ações e em verdade[8]. Amar significa dar a vida pelos irmãos[9]. E dar a vida significa viver a partilha, a comunhão: «Se alguém, possuindo bens neste mundo, vê seu irmão na necessidade e lhe fecha o coração, como permanecerá nele o amor de Deus?»[10].

[1] Cf. Am 8, 4-6.
[2] Mq 6, 12.
[3] Is 10, 1-2.
[4] Ecl 2, 26.
[5] Tg 2, 1-7.9.
[6] Tg 5, 1-5.
[7] 1Jo 4, 8.16.
[8] 1Jo 3, 18.
[9] 1Jo 3, 16.
[10] 1Jo 3, 17.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Saber! pra que? por quê?


Saber, por quê? Pra quê? Hoje, festa do grande São Bernardo, abade e doutor da Igreja, podemos dele aprender as verdadeiras motivações de saber...
Dizia o grande mestre:
"Existem alguns que querem saber unicamente para saber: vergonhosa curiosidade!
Outros querem saber onde se conheçam que são sábios: vergonhosa vaidade!
outros ainda, querem saber para vender o próprio conhecimento seja por lucro, seja por buscar o prestígio: vergonhoso tráfico!
Mas, existem outros, ao invés, que querem saber para a edificação dos outros, e isto é caridade;
existem outros que querem saber para edificar a si próprios e isto é prudência.
De todos estes, apenas os dois últimos conhecem o valor da ciência e sabem usá-la".

ELE PERDEU A CABEÇA!



Lectio de 1/agosto/2009
Mt 14, 1-12.

A experiência de Herodes, homem inescrupuloso, covarde, fraco, sujeito às influências de Herodíades, sua sobrinha, filha de Aristóbolo, seu irmão e casada com seu outro irmão Filipe é sintomática.
Com efeito ao casar-se com Herodíades, enquanto esposa de Filipe, Herodíades mudou de marido porque afinal, Filipe é uma figura apagada, inexpressiva...
João Batista anunciou que isso não é permitido. No Levítico está escrito: “não descobrirás a nudez da mulher de teu irmão, pois é a própria nudez de teu irmão” (Lv 18, 16). Em suma, é um adultério.
Toda uma celebração ensejou, em momento de entusiasmo impensado uma promessa que deveria ser cumprida. Herodes Antipas acabou tendo que cumprir a promessa de decapitar o precursor. Herodíades, através de sua filha Salomé, vingou-se ferozmente do seu desafeto.
Mensagens:
- o quanto o jogo de poder revela personalidades fragmentadas, vingativas, mergulhadas no poço sem fundo da ambição que revela egoísmo e soberba; em suma, a que ponto o jogo de poder leva pessoas a serem cruéis, inescrupulosas, iracíveis e malignas.
- a castidade matrimonial é corajosamente defendida por um celibatário. João Batista dá a vida por esta causa. A mentalidade utilitarista é sempre uma forma bastante sombria de usar as pessoas e delas se aproximar somente por motivações interesseiras, em função de vantagens pessoais. Tal mentalidade revela a falta de integridade, de saber acolher os limites e as riquezas que estão presentes em cada pessoa ou em cada situação que a Providência coloca ao nosso lado ou põe à nossa disposição. Tornando-se insaciável, a mentalidade tacanha levará o indivíduo a buscar vantagem em tudo, sem levar em conta os limites;
- o rei se entristeceu: não queria levar as coisas ao extremo de um assassinato, mas não poderia voltar atrás na sua palavra e fez o que não queria. Quando as pessoas se deixam levar de pecado em pecado ao fundo do poço acabam sendo constrangidas a fazer o que não querem.
- os discípulos de João vão anunciar a Jesus o ocorrido. Nosso Senhor sempre acompanha as coisas e este martírio foi o coroamento de seu primo e precursor foi a confissão e a profecia de um homem que se agigantou querendo que Cristo crescesse para que ele diminuísse. E ele diminuiu, sendo por isso, grande, muito grande!

RHEMA: Corações íntegros, puros, retos, fiéis, humildes, vivem o projeto de Deus e não entram no poço sem fundo da ambição que revela um coração disperso, fragmentado pela ditadura das paixões

sábado, 28 de março de 2009

Um referencial de amor no calvário, no presépio e no sacrário!





AS REMINISCÊNCIAS DO NATAL PARA UMA COMPREENSÃO DO REINO DO CRUCIFICADO QUE RESSUSCITOU


A pouco, celebrávamos o mistério da natividade do Senhor. Não somente um mistério gozoso, mas que porta em si, já as dores da profecia do Menino Rei.
Na solenidade da Epifania, a liturgia nos apresentava os magos que indagavam a respeito do Rei dos judeus que acabava de nascer (cf. MT 2, 2). Certamente ele é Rei, mas a partir de parâmetros e dentro de um sentido bem pouco entendido pelos mortais. A pergunta que Pilatos, anos depois faria a este menino feito homem adulto, nos introduz nesta verdade: “Tu és rei?” Ao que responderá o Senhor “Tu o dizes eu sou rei” (Jo 18, 37). Encimado na cruz havia o letreiro: “Jesus Nazareu, rei dos judeus” (Jô 19, 19). As atitudes ante este rei foram as mais diversas; acolhimento como foi o caso de Maria, José, os pastores, os magos, João Batista, os discípulos, os amigos de Betânia, Madalena e outras pias mulheres; rejeição como foi o caso de Herodes, Judas Iscariotes, várias lideranças religiosas, Pilatos e outros. Cada um deve se posicionar ante Aquele que “foi colocado para a queda e o soerguimento de muitos em Israel, e como sinal de contradição” (Lc 2, 33).
Ele é Rei. Mas, de que reino? Qual a razão das pessoas humanas não compreenderem o seu sentido e sua consistência?
Para responder a essa pergunta, é fundamental entender ou acolher que Deus não está a serviço dos projetos humanos e de suas realizações históricas, ainda que o “programa” de Deus é a pessoa humana. O homem não deve apenas ser libertado dos estorvos ou da hostilidade dos seus semelhantes, mas libertado de si mesmo, porque, só assim, será livre para Deus. A profecia de Miquéias, a respeito do “chefe que governará Israel” (Mq 5,1, cf. Mt 2, 6), adquire uma interpretação inteiramente nova na vida de Jesus. Seu cetro será a verdade; seu poder a misericórdia; seus nobres, os pobres e os humildes; todos aqueles para os quais Deus é mais importante do que eles próprios. Seu exército será composto por “idealistas” que “perdendo” suas vidas, servirão a muitos de testemunho de que chegou a vitória final. Seu evangelho será a humildade e a santidade.
Tanto Herodes, quanto as lideranças religiosas responsáveis pela morte de Jesus, quanto Judas Iscariotes ou mesmo Pilatos e as lideranças de todos os tempos, incluindo obviamente as atuais, não poucas vezes buscaram e buscam a si mesmos em uma frenética meta da projeção essencialmente egolátrica, gananciosa, espúria. Jesus o alertara: “Sabeis que os governantes das nações as dominam e os grandes a tiranizam” (Mt 20, 25). O poder tem mostrado sua face plúmbea, sinistra, ainda que tenha havido pessoas que dele se serviram para fazer o bem e promover as pessoas. A política, o exercício da liderança e do poder, ser autoridade são instrumentos maravilhosos e sadios em sua essência. No entanto, sê-lo-ão na medida em que os valores humanizadores e cristãos não são negligenciados.
Ao falar do seu reino, o Divino Mestre afirmou peremptoriamente ante Pilatos: “Meu reino não é deste mundo. (...). Meu reino não é daqui” (Jo 18, 36). Noutras palavras, Jesus não precisa do esplendor dos grandes deste mundo. Sua glória será outra e será quase visível através de seu aniquilamento na cruz.
Efetivamente, Jesus entrou neste mundo direcionando sua vida, seus valores, encaminhando suas ações, assumindo atitudes que estiveram na contra-mão do pensamento comum. Em sua encarnação, Ele que é Deus com o Pai (cf. Jo 1, 1-4), assumiu a pobreza e a precariedade da nossa mísera humanidade fazendo-se carne (cf. Jo 1, 14). Sua experiência de fugitivo político o fez experimentar em tenra idade o que significa ser estrangeiro no Egito (cf. Mt 2, 13-15). Sua vida em Nazaré, cidade insignificante e sem prestígio em Israel (cf. Jo 1, 46), foi sua cidade e lá esteve ao lado de Maria e de José em uma vida frugal, na pobreza de um operário que ganha o pão com o suor de seu rosto (cf. Gn 3, 14). Não fez milagres para tornar sua vida mais fácil! Em sua vida pública, ele não tinha onde reclinar a cabeça (cf. Lc 9, 58) e, ao tentá-lo fazê-lo rei, refugiou-se sozinho na montanha (cf. Jo 6, 15) haja vista não ser esse o critério de realeza a ser assumido por este Rei e Senhor. Em suma, Ele fez milagres para assumir o projeto do Pai, de manifestar o poder do reino, libertar as pessoas, aproximá-las de seu projeto, sem especificamente “facilitar” as coisas ou mesmo resolver “magicamente” os problemas. Enfim, ao fim de sua vida, vilipendiado ao extremo, morreu numa cruz, o mais ignominioso e penoso castigo, (cf. Lc 23,33-46). E mesmo depois de sua gloriosa ressurreição e ascensão quis permanecer em meio a nós sob as humildes espécies de pão e de vinho na Eucaristia (cf. Jo 6) e escondido nos pobres (cf. Mt 25, 31ss).
Isso nos ampara para fundamentar que a religião é apenas uma pálida expressão daquilo que Deus na verdade deve ser para nós. As lideranças religiosas de todos os tempos que se declaram cristãs, devem precaver-se do perigo de estabelecer na religião um pedestal para a glória pessoal, para a prosperidade financeira, para buscar seguranças de toda espécie. Servir-se de Deus ao invés de servir a Deus é paganismo da pior espécie. Religião nunca deve ser pedestal para as próprias projeções ufanistas, mas “genuflexório” da nossa adoração de Deus, e a constante inquietude perante aquele que nos questiona no íntimo de nossas consciências. Ai de quem substitui sua confiança no Senhor pelas garantias de uma religião singelamente acomodada. Ou nos tornamos peregrinos inquietos e itinerantes nesta busca do rosto do Senhor escondido em nós, nos pobres, na Escritura, na história da humanidade ou então, a ausência da busca, a não desinstalação transformará nossa caminhada em ausência do próprio Deus! “(...) aquele que quiser tornar-se grande entre vós seja aquele que serve, e o que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o vosso servo” (Mt 20, 26-27).
A Igreja toda é chamada a ir ao presépio, ao calvário, ao sacrário, mergulhar no silêncio e contemplar Deus para, a partir deste olhar sobre Ele, assumir atitudes que sejam respostas, traduzidas em busca que, por sua vez, transfigurar-se-ão no encontro definitivo do alvorecer da eternidade.

Humildade da água do rio




Uma estrada construída na humildade


O que vale mesmo é buscar, insistir, persistir e não desistir.

O rio, que tu vês na imagem, seguindo a ordem normal das leis da física, obedece, se adapta ao terreno e ao relevo onde passa. Se ele encontra a montanha, não sobe a montanha. Se ele encontra o abismo, ele se joga pra baixo. Circundar a montanha, descer o abismo e jogar-se é uma forma de encontrar o seu rumo, de dar sua contribuição vital onde passa. A montanha, o abismo, tudo é razão para descobrir onde ir! Eles não atrapalham, eles são indicadores do percurso. O alvo será atingido, a meta se avizinha!
Imagine só: um rio que sobe a montanha! cruz credo, o povo vai pensar que é bruxaria e os cientístas vão somente dar uma gargalhada. O rio não desce o abismo porque não quer cair e virar cachoeira! bem, vão pensar que você bebeu pinga ou tá de pileque. Não dá!
Mas, teu orgulho tantas vezes te fez recusar dar a volta da montanha. Quais são tuas montanhas? Tua soberba te fez não descer e cair pedras abaixo. Quais são teus declives?

Nossa vida deve seguir o exemplo deste rio. Construir-se e levar vida lá onde passamos. Acolhendo paciente e humildemente as exigências do terreno, marcando-o fortemente com nossa passagem estaremos descobrindo o caminho. Aliás, o caminho surge na medida que damos passos. Como diz o provérbio espanhol: "o caminho é caminhar". Marcar sem angústia, sem agitação, sem medo ou falsos complexos de inferioridade. Marcar o chão onde passamos, sem a soberba da montanha, mas com a perseverança da água, com sua pureza e sua humildade. O caminho nos forma, mas nós formamos o caminho. E seguindo o percurso que encontramos, somos encontrados por aqueles que nos esperam e desaguaremos no mar, em toda a infinidade de sua grandeza.

CAMINHO DE LUZ!



O CAMINHO DA LUZ

DA CHAMADA CARTA DE BARNABÉ

(Século II)


Eis o caminho da luz: se alguém deseja chegar a determinado lugar, que se esforce por seu modo de agir. Foi-nos dado saber como andar por este caminho: amarás quem te criou. Terás veneração por quem te formou; darás glória a quem te remiu da morte. Serás simples de coração e rico no espírito; não te juntarás aos que andam pelo caminho da morte. Terás aversão por tudo quanto desagrada a Deus; odiarás toda dissimulação; não desprezes os mandamentos do Senhor. Não te exaltes a ti mesmo, sê humilde em tudo; não procures glória. Não trames contra teu próximo; não te entregues à arrogância.
Ama teu próximo mais do que a tua vida. Não mates o feto por aborto, nem depois do nascimento. Não retires a mão de teu filho ou de tua filha e, desde a infância, ensina-lhes o temor do Senhor. Não cobices os bens de teu próximo nem sejas avaro; não te unas de coração aos soberbos, mas sê amigo dos humildes e justos.
Tudo quanto te acontecer, recebe-o como um bem, sabendo que nada se faz sem Deus. Não sejas inconstante nem usarás duplicidade no falar; na verdade, é laço de morte a língua dúplice.
Partilharás tudo com teu próximo e não dirás ser propriedade tua o que quer que seja: se sois co-herdeiros das realidades incorruptíveis, quanto mais daquilo que se corrompe. Não serás precipitado no falar, pois a boca é um laço de morte. Tanto quanto puderes, em favor de tua alma, sê casto. Não tenhas a mão estendida para receber e, encolhida para dar. Ama como a pupila dos olhos todo aquele que te dirigir palavra do Senhor.
Relembra, dia e noite, o dia do juízo e procura diariamente a presença dos santos, estimulando com a palavra, exortando e meditando como salvar a alma por tua palavra ou trabalhar com tuas mãos para remissão dos pecados.
Não hesites em dar nem dês murmurando; bem sabes quem é o bom remunerador da dádiva. Guarda o que recebeste, sem tirar nem pôr. Seja-se perpetuamente odioso o Maligno. Julgarás com justiça, não fomentes dissídios, mas esforça-te por restituir a paz, reconciliando os contendedores. Confessa os teus pecados. Não vás à oração, de má consciência. Este é o caminho da luz.

silêncio - solidão - simplicidade


Silêncio – Solidão – Simplicidade: os portais da Intimidade

A intimidade é a medida do amor e o amor é encontro e busca de comunhão que gera doação, acolhida que dá espaço para a revelação;

Intimidade é silêncio em forma de plenitude, totalidade, percepção do mistério que desemboca no irresistível desejo de abarcar na despretensão de possuir ou controlar. É totalidade, integridade unificada para escutar, olhar Aquele que se revela;

Intimidade é deixar de lado ou colocar em plano secundário tudo o que for instrumental e acessório. Significa ter diante do coração o essencial de tudo e do Tudo;

Intimidade significa reclinar a cabeça no coração do amado Senhor para acolher o pulsar do seu coração de carne e ao mesmo tempo tão divino. É o repouso tão passivo e tão ativo no paradoxo do amor que é vida. É a explosão vulcânica de quem não pode conter o ardor das férvidas larvas tão próprio deste irresistível sair de si. Tal dinamismo impetuoso do amor faz o Verbo sair do seio de seu Celeste Pai para, no incontido êxodo, encarnar-se nas entranhas puríssimas da Dulcíssima Virgem Maria, toda pura, toda santa, toda de Deus, feita Mãe de todos, nas dores da paixão!

A intimidade é na verdade, uma iniciativa divina onde, no augusto mistério da encarnação, o Esposo consolida o seu encontro nupcial com esta pobre humanidade, culpada e manchada, ferida e doída;

Intimidade é colocar-se diante deste trono de misericórdia inigualável, todo pronto para Deus. A suprema humilhação do Verbo nos permite de acolher o Deus altíssimo, que se fez o baixíssimo, pequeniníssimo, na solidariedade divina, resgatando o Adão culpado, banido do paraíso;

Intimidade é não querer entender co’a razão, mas adorar com o coração, no silêncio reverente, recolhido, respeitoso, mergulhado no mistério de Quem é, foi, será e vem!

Intimidade é saber calar as razões e suas encenações ou suas ações para dar lugar à suavidade inenarrável do não saber e do não querer ver ou perceber, mas crer, acolher, escolher sem medo de descer, no deixar-se enternecer pelo Eterno que humano quis ser!

Intimidade é silencioso e acolhedor vazio a ser preenchido pela verdade da caridade que encarna a beldade e bondade do infinito, do todo Outro que faz o eu encontrar o seu lugar;

Intimidade é vazio, lugar vago e sem brio, pela pobreza afagado, que se encontra marcado e de que ninguém mais pode ser; Mas será d’Aquele que é só, somente do que é Único!

Intimidade é silêncio profundo, fecundo, o qual na força de sua plenitude cala os gritos, as vozes e ruídos, as interferências nas suas multiformes consistências e exigências; silenciosa escuta da Palavra comunicadora e operosa, transformadora, corajosa, arrebatadora e prestimosa na força unitiva do amor que se faz comunhão, divino vulcão, explosão de vivificação;

Intimidade é este corpo ferido, na cruz pendido, o coração transpassado, o vulto velado pela dor de um ser rendido, todo ofertado, tão fragilizado e sofrido! Lá está Ele, ser humano rendido, tão divino escondido, livremente indefeso, tão doce peso, aquele cadáver, tão teso e tão leso, nas dores da paixão!

Intimidade é este mesmo corpo, vivo ressuscitado, eucaristicizado, para ser presença, amorosa e gloriosa, poderosa e honrosa, de um amor que não se ausenta, mas sempre se apresenta, como dom total, sem reservas e por inteiro;

Intimidade é imitação, discipulado, seguimento, sempre atento do amor, que se faz pão, doce comida, a nossa vida, divina refeição;

Intimidade é como Cristo, ser pão partido, dom partilhado, todo ofertado, oferecido em comunhão;

Intimidade é adoração deste mistério, colher o dom que faz de Si, a santa Vítima, o doce amigo, pascal Cordeiro;

Intimidade é transbordar do Deus Trindade, santa unidade, grã comunhão, mistério augusto, que a nós vem em Três Pessoas, santas e boas, tão sumo Bem!

Intimidade é simplicidade para acolher sem medo de crer o que Deus revela, amor que se entrega com todo o seu ser;

Intimidade é simplicidade, amor e bondade, disponibilidade em se dar e servir, coração de criança, humildade em abundância, mansidão e constância para a paz cultivar!

Intimidade é jardim, bem varrido e florido, para o Esposo agradar; é fonte selada, pelo Amado encantada, água pura de amor! É canteiro enfeitado, de belas flores adornado, de virtudes embelezado, paraíso encantado da pureza o esplendor!

Intimidade é partilha com o Dileto, é amor gratuito e concreto, é tudo por em comum; é amizade verdadeira, determinação certeira de com Ele sempre estar!

Intimidade é silêncio, solidão, simplicidade, santos magos que visitam o mistério do Amor, de comunhão e união, de plenitude transbordante no dinamismo da Missão!




Ó Deus uno e Trino Santo
Dai-nos viver até morrer
Sem no amor esmorecer
Para no céu vos poder ver

Na vossa Santa intimidade
Viva eu sempre em caridade
Em castidade e humildade
Pra dia e noite em Vós viver

Que no silêncio eu vos escute
Na solidão em Vós habite
Que meu espírito e este meu ser
Eu vos adore, ame e sirva
E na feliz eternidade
Eu vos possa sempre ter!

sábado, 7 de fevereiro de 2009

EU NÃO SOU O MESSIAS!

EU NÃO SOU O MESSIAS!
Um comentário de Jo 3, 22-30.



“Eu não sou o messias, mas sou enviado diante dele” (Jo 3, 28). Ver, assimilar a verdade, deixar-se por ela libertar e plasmar para alcançar a liberdade, eis a marca registrada de São João Batista, o precursor de Nosso Senhor. Sendo enviado diante do Messias, em nenhuma hipótese arvorou-se assumir a identidade ou o papel do Cristo de Deus.
Por mais que pareça óbvio e ululante, é de suma importância cada qual permanecer no seu lugar e lá permanecer, na convicção profunda, deste ser o caminho a ser tomado. As tentações de querer ser o messias na vida das pessoas, das comunidades, instituições e, por conseguinte, da Igreja ou mesmo do mundo, sempre perpassou os corações em sua humana fraqueza. A humildade, que é a verdade, quando é sólida, não dá espaço para ilusões. O humilde não se engana, nem engana. Sabe muito bem que por meio de uma evangelização ousada e de uma fé que opera na caridade, não deve se permitir omitir em fazer das pessoas seguidoras do único Cristo Messias. Sem buscar atrair ou formar discípulos para si, ao máximo será, na vida das pessoas, um ponto de passagem e nunca um ponto de chegada. A desobediência, a presunção, o orgulho, a vaidade, a soberba e todo o triste cortejo de conseqüências nefastas das corrosivas ações na vida das pessoas, fatalmente leva-las-á ao engano profundo.
Cada qual procure conhecer e viver no melhor dos modos e na mais vívida verdade, a missão confiada a si por Deus. Ele nos dará tudo quanto precisamos para o exercício deste ministério-serviço. Efetivamente, lembra-nos São João: “Um homem nada pode receber a não ser que lhe tenha sido dado do céu” (Jo 3, 27). Noutras palavras, tudo recebemos do Senhor, nosso único benfeitor e supremo provedor. Esta visão de fé inspirou Santo Agostinho a dizer em suas “Confissões”: “Dá-me aquilo que pedes e pede-me aquilo que quiseres” (Livro X, n. 10). As criaturas, as instituições, os acontecimentos acabam, de um jeito ou de outro, assumindo um papel de seus ministros, seus canais e seus instrumentos a fim de que os divinos favores ou a divina correção cheguem a nós. O zelo grande deve ser o de amar a Deus. Quem ama a Deus está sempre em vantagem, no lucro certo, na felicidade garantida. Quem no-lo assegura é Paulo quando afirma: “Tudo contribui para o bem daquele que ama a Deus” (Rm 8, 28). Ninguém com isso, deve se sentir autorizado, em nenhuma hipótese, a fazer o mal, nem a se acomodar em não fazer o bem, podendo e devendo fazê-lo.
Não somos marionetes nas mãos de Deus! Ele, em sua sabedoria e providência, sabe dispor de tudo e de tudo tira um bem Mario. Permanece a missão de construirmos com diligência e reta intenção, o Reino de Deus.
Sim, é preciso querer, mas o querer deve ser amor e nada mais é amor senão viver a caridade da Trindade que ao revelar sua vontade, exalta ao máximo nossa liberdade e nos plenifica com sua eternidade!
Certamente, alegrar-se-á o amigo do esposo, ao ouvir deste esposo a voz. Nesta voz, está a Palavra. A alegria de contemplar este Cristo que desposa a Igreja é prenúncio das núpcias eternas da feliz eternidade.
No rastro desta alegria “é necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3, 30). Desafio grande para o orgulho humano é diminuir, apequenar-se. Sem esta humilde disposição, a evangelização está fadada a reduzir-se a uma triste orquestração de vanglória do evangelizador. Pode até existir eficiência e exuberância nos meios, mas a fecundidade está comprometida. Ele dará a si mesmo, ao invés de dar Cristo. Esta liberdade de saber aparecer e desaparecer, de estar aqui ou ali, de fazer esta ou aquela tarefa, não sentir-se necessário, mas ser disponível, tudo isso é saber diminuir. Assim, Cristo crescerá!
Sem confundir-se com o complexo de inferioridade, a humildade é uma virtude de maturidade humana e espiritual que leva à ousadia apostólica por crer na sublimidade da causa e sobrenaturalidade dos meios. O humilde ao invés de olhar para si, contempla quem o chamou, ungiu e enviou. Conhecerá, valorizará e utilizará no melhor dos modos as ferramentas que Deus a ele disponibilizou. O que foi dado aos outros, bem, isso não é da sua conta. Naquilo que Deus doa e não doa, concede ou nega a cada um de nós, uma visão de fé é sempre uma inesgotável fonte de paz. Mantendo fixo o seu olhar em Deus, ele segue rumo à meta! Seguindo os passos do apóstolo Paulo, o evangelizador, vocacionado a ser também o precursor, prosseguirá para ver se alcança Cristo, pois que foi conquistado por Ele. Deste modo, esquecendo-se o que fica para trás, avançando para o que está adiante, prosseguirá para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus (cf. Flp 3, 12-14).

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Este ditador chamado relativismo!

Ante o grande pensamento de Deus, um pequeno e tão limitado modo de ver o mundo! Uma tentativa de relativização esvaziante de verdades eternas e princípios sólidos sobre quem é o homem. Um desafio para a evangelização e formação dos filhos de Deus.




Para refletir sobre o relativismo ético....




"verifica-se que, por um lado, os cidadãos reivindicam para as próprias escolhas morais a mais completa autonomia e, por outro, os legisladores julgam respeitar essa liberdade de escolha, quando formulam leis que prescindem dos princípios da ética natural, deixando-se levar exclusivamente pela condescendência com certas orientações culturais ou morais transitórias como se todas as concepções possíveis da vida tivessem o mesmo valor. Ao mesmo tempo, invocando erroneamente o valor da tolerância, pede-se a uma boa parte dos cidadãos – entre eles, aos católicos – que renunciem a contribuir para a vida social e política dos próprios Países segundo o conceito da pessoa e do bem comum que consideram humanamente verdadeiro e justo, a realizar através dos meios lícitos que o ordenamento jurídico democrático põe, de forma igual, à disposição de todos os membros da comunidade política. Basta a história do século XX para demonstrar que a razão está do lado daqueles cidadãos que consideram totalmente falsa a tese relativista, segundo a qual, não existiria uma norma moral, radicada na própria natureza do ser humano e a cujo ditame deva submeter-se toda a concepção do homem, do bem comum e do Estado.
(CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, NOTA DOUTRINAL sobre algumas questões relativasà participação e comportamento dos católicos na vida política)


Num livro publicado antes de sua eleição como Romano Pontífice, Bento XVI se referia a uma parábola budista. Um rei do norte da Índia reuniu um dia um bom número de cegos que não sabiam o que é um elefante. Fizeram com que alguns dos cegos tocassem a cabeça e lhes disseram: “isto é um elefante”. Disseram o mesmo aos outros, enquanto faziam com que tocassem a tromba, ou as orelhas, ou as patas, ou os pelos da extremidade do rabo do elefante. Depois, o rei perguntou aos cegos o que é um elefante e cada um deu explicações diversas, conforme a parte do elefante que lhe haviam permitido tocar. Os cegos começaram a discutir, e a discussão foi se tornando violenta, até terminar numa briga de socos entre os cegos, que constitui o entretenimento que o rei desejava.Este conto é particularmente útil para ilustrar a idéia relativista da condição humana. Nós, os homens, seríamos cegos que corremos o perigo de absolutizar um conhecimento parcial e inadequado, inconscientes da nossa intrínseca limitação (motivação teórica do relativismo). A filosofia relativista se apresenta a si mesma como o pressuposto necessário da democracia, do respeito e da convivência. Mas essa filosofia não parece dar-se conta de que o relativismo torna possível a burla e o abuso por parte de quem tem o poder em suas mãos: no conto, o rei que quer se divertir a custa dos pobres cegos; na sociedade atual, aqueles que promovem os seus próprios interesses econômicos, ideológicos, de poder político etc. à custa dos demais, mediante o manejo hábil e sem escrúpulos da opinião pública e dos demais recursos do poder. A "ditadura do relativismo" a que se referiu o sumo pontífice pouco antes de sua eleição ao sumo pontificado, nega coisas definitivas, estáveis e coerentes defendidas pelo cristianismo. A democracia, então, parece que só funciona quando as pessoas tudo relativizam e tudo aceitam, negam elementos e pressupostos essenciais da dignidade e identidade humana marcados pela verdade da revelação divina sobre a pessoa humana.
Eis um desafio!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

santos jovens de calça jeans....

QUEM SÃO OS JOVENS DOS TEMPOS MODERNOS? QUE TIPO DE SANTIDADE É PRECISO VIVER PARA TESTEMUNHAR QUE CRISTO VIVE E AGE EM MEIO A NÓS? UMA PISTA....
ALGUÉM SUGERIU.....


Precisamos de Santos Precisamos de Santos sem véu ou batina. Precisamos de Santos de calças jeans e tênis. Precisamos de Santos que vão ao cinema, ouvem música e passeiam com os amigos. Precisamos de Santos que coloquem Deus em primeiro lugar, mas que se "lascam" na faculdade. Precisamos de Santos que tenham tempo todo dia para rezar e que saibam namorar na pureza e castidade, ou que consagrem sua castidade. Precisamos de Santos modernos, santos do século XXI, com uma espiritualidade inserida em nosso tempo. Precisamos de Santos comprometidos com os pobres e as necessárias mudanças sociais. Precisamos de Santos que vivam no mundo, se santifiquem no mundo, que não tenham medo de viver no mundo. Precisamos de Santos que bebam coca-cola e comam hot dog, que usem jeans, que sejam internautas, que escutem disc man. Precisamos de Santos que amem apaixonadamente a Eucaristia e que não tenham vergonha de tomar um refri ou comer uma pizza no fim-de-semana com os amigos. Precisamos de Santos que gostem de cinema, de teatro, de música, de dança, de esporte. Precisamos de Santos sociáveis, abertos, normais, amigos, alegres, companheiros. "Precisamos de Santos que estejam no mundo; e saibam saborear as coisas puras e boas do mundo, mas que não sejam mundanos". (João Paulo II).

AQUELE QUE NOS AMAVA, TAMBÉM REZAVA, CAMINHAVA SOBRE AS ÁGUAS E SEUS AMIGOS ENCORAJAVA

Jesus os obrigou a entrar na barca: A barca é símbolo da Igreja. Lá estarão unidos, permanecerão próximos aqueles a quem Jesus confiou esta pequena missão de ir para as águas mais profundas e logo após confiará encargos de grande responsabilidade. Levarão a boa nova até os confins da terra, a todos os povos, línguas e razões. Construir, na força de sua ressurreição um reino sem fronteiras, cujo raio de amplitude é o próprio mundo. Um reino que deverá atingir a terra toda. Para isso, o Senhor fará de sua Igreja um sacramento, isto é, um sinal visível, eficaz de sua graça, de sua eleição. Eles deveriam ir à sua frente. Assim aconteceu com João Batista que esteve à frente, precedeu o Senhor para preparar-lhe os caminhos. E depois de tudo, quando apontou o Cordeiro de Deus, soube desaparecer, soube ocultar-se. Ele, o Cristo, é que permanecerá. Alegremente e firmemente convictos do próprio papel de facilitadores destes encontros de Jesus com as pessoas, tanto o Batista, quanto os apóstolos e todos os evangelizadores de todos os tempos, souberam diminuir para a Palavra encarnada crescer e florecer, frutificar na vida de quantos Ele ama e deseja salvar.


Logo depois de despedir deles, Jesus subiu ao monte para rezar. A oração em Jesus é uma constante, uma necessidade ontológica (ligada ao seu ser). É alimento, é oxigênio, é vida, é razão de ser. Digne-se o Senhor fazer-nos pessoas orantes, a exemplo de Sua Divina Majestade!
Jesus viu os discípulos cansados de remar. Ele também nos vê em nossas fadigas e lutas. Sabe tudo e seu olhar contemplativo não é passivo ou inerte. É um olhar de cuidado, uma visão penetrante, envolvente, encorajadora e solidária. Quantas vezes estamos cansados de remar contra um mar revolto da história da Igreja e da humanidade. Lá estamos sempre a nos deparar com as tribulações, provações, tentações e desafios de todo tipo. O vento dos acontecimentos nos desafia e parece que naufragaremos em meio às impiedosas lufadas. Mas, a certeza que Ele nos olha, deve gerar em contrapartida uma convicção de não estarmos sós, nem a remar inutilmente. Não é vão nosso esforço, nem é desperdício o investimento de nossas vidas nestes interesses do Reino! Ele nos vê!


Pelas três da madrugada, ele segue andando sobre as águas, em hora difícil, num momento dramático de penosa vigília. Estavam eles, no auge do horário do sono, pescadores rudes, acostumados ao furor do vento e às borrascas das ondas a lutar para a pobre barca não soçobrar. No entanto, Ele caminha sobre as águas. Que simbolismo forte, marcante, significativo! Caminhar sobre as águas é um gesto divino, de poder sobre os elementos naturais de grande vigor e grandeza, mas que estão submissos ao seu Criador. Caminhar sobre as águas que trás um simbolismo carregado de matizes do vigor salvífico do Mestre. Ele tem tudo debaixo de seus pés: as tribulações, as dores, os medos, as tentações e tudo mais que parece fazer levar para o fundo do mar a frágil embarcação. Nada poderá ir além de suas permissões, nem impedirá que seus desígnios se realizem. Se for assim, então por que se esforçar? Entra aqui o mistério da graça e da liberdade humana. Somos convocados pela Providência de Deus a fazer o que nos estiver ao alcance. Lutar, remar, insistir, buscar soluções, mobilizar forças, suscitar sensibilidades, convencer, arregimentar colaboradores, detectar possibilidades, enfim, não deixar de fazer o que nos for possível. Ser conscientes, conseqüentes e coerentes com o Deus uno e trino, grande protagonista da história que age na força do ressuscitado que nos dá o seu Espírito para vivermos esta missão que amorosamente nos foi confiada. Que lição consoladora e encorajadora, sobretudo ao percebermos nossa pequenez ante as ondas bravias e altaneiras dos nossos confrontos com as realidades do nosso tempo e do nosso espaço!


Pensaram que era um fantasma: não poucas vezes isso pode acontecer e confundimos as coisas, não enxergamos com clareza, por detrás das cruzes o Senhor abandonado e crucificado. Fica-se na superficialidade de uma leitura aparente, bastante periférica. Vê-se a dor, o drama, mas não se atinge o cerne de tudo: o mistério salvífico embutido na cruz!
Coragem, sou eu! Não tenhais medo. São estas as palavras com as quais ele acalentou os discípulos assustados, inseguros ante o poder por Ele manifestado ante o mar rebelde e a noite densa. Uma presença que consola, fortalece, anima e compromete. Para nos lançarmos neste serviço do reino, dar nome aos medos e superá-los, é fundamental. A coragem não é ausência do medo, mas mesmo com medo, superá-lo e continuar indo em frente. Não deixar-se intimidar ou paralisar por ele é abrir portas para as tantas possibilidades que a Providência de Deus nos abre para seguirmos em frente, para sermos e fazermos que somos chamados a ser e a fazer. Cultivar uma sensibilidade nova, construída na força das convicções que brotam do mistério de Cristo morto e ressuscitado, de sua presença constante em meio à história que com Ele construímos. Ele está no meio de nós! São palavras que entraram na liturgia, na inteligência da fé, mas não devem faltar nas convicções profundas do agir, das iniciativas vivas e operantes pelos interesses do Reino.


Os discípulos não compreenderam nada a respeito dos pães que tinham sido multiplicados. Seus corações estavam endurecidos. “Hoje não endureçais os vossos corações!” Esta admoestação, dita por Deus através do Sl 94 é um alerta precioso. Quando se perde o sentido orientador da fé, a força vitalizadora do amor e a dinâmica impulsionadora da esperança, o coração se fecha e petrifica. E quanto mais ele se petrifica, tanto mais ele se desnorteia e se afasta do rumo. O enfraquecimento da vontade e o obscurecimento da inteligência têm efeito devastador na vida de um alguém que experimentou Deus. Perder a dimensão eucarística da vida, simbolizada na partilha dos pães, significa despojar a vivência cristã de sua luz e de sua razão de ser. Partilhar, criar unidade, ampliar uma vasta rede de comunhão na diversidade das identidades e das possibilidades, transformar a vida em doação compromisso, tudo isso oxigena, ilumina, abre horizontes inusitados para a realização da pessoa humana em Deus e Deus na pessoa humana.