sábado, 8 de janeiro de 2011

TUDO O QUE TEMOS, RECEBEMOS DO ALTO!


"Ninguém pode receber alguma coisa, se não he for dada do céu. Vós mesmos sois testemunhas daquilo que eu disse: 'Eu não sou o Messias, mas fui enviado na frente dele' ". (Jo 3, 27-28).

Oi Filoteu!

   Achei de grande importância estas palavras, repletas de uma sabedoria luminosa, cheia da mais densa verdade. Achei por bem, partilhar contigo a riqueza que ela porta. Foram palavras ditas por João Batista, o precursor do Messias. Há uma verdade fundamental: tudo o que temos recebemos. 
O rei Davi afirmou algo, em um momento litúrgico, no templo que trás estas marcas fortes: "Agora, pois, ó nosso Deus, nós te celebramos, louvamos o vosso nome glorioso; pois quem sou eu e que é meu povo, para sermos capazes de fazer tais ofertas voluntárias? Porque tudo vem de ti e te ofertamos o que recebemos de tuas mãos" (1 Cro 29, 13-14). Além disso, o apóstolo Paulo diz com muito realismo e grande autoridade: "Pois, quem é que te distingue? Que é que possuis que não tenhas recebido?" (1Cor 4, 7). Faz-me lembrar de Agostinho, quando na sua oração dizia para Deus: "Dá-me o que me pedes e pede-me o que quiseres" (Confissões).
   Tudo isso, faz pensar. Não somos donos de nada e de modo algum poderemos o senso de propriedade ou o instinto e posse deve encontrar em nós tanta abertura ou tanta falta de vigilância, ao ponto de que venhamos a esquecer nosso papel ante todos os bens: administradores, não proprietários. E isso se confirma no fato que no dia da morte, tudo e todos passarão. Digo brincando e falando sério que o cemitério está cheio de insubstituíveis enterrados por lá.
   Parece doidice para uma corrida que se tem em acumular coisas (bens materiais, dinheiro), dominar ou influenciar pessoas, mostrar um currículo cheio de muitos títulos, ter o domínio de tantos conhecimentos e quem sabe, sentir-se seguros até mesmo por uma santidade que se alcançou em função de vícios e pecados presumidamente e quem sabe, até efetivamente superados. Donos, proprietários, senhores, bem, tudo isso é ilusão. Não o somos e nem adiante espernear. No dia da morte entregaremos tudo ao proprietário legítimo e doador de todos os dons. Com os dons somos chamados a cumprir nossa missão, fazer o bem, viver o projeto de Deus. Olha Filoteu, não quero te fazer propostas bizarras ou meio esquisitas para o nosso tempo. Um exemplo destes hábitos, eram aqueles que os religiosos

tinham de ter uma caveira no quarto para meditar a morte. Mas, acho interessante, pensar que, o fim último chegará, tal é sempre saudável e nos ajuda a não nos enganar com aquilo que passa. Fica mais fácil para vencer  o orgulho e seus terríveis tentáculos, a vaidade desaparece como a névoa ante o brilho do sol da divina verdade.  Vale recordar o que o apóstolo João nos ensina: "Ora,o mundo passa com suas concupiscências; mas o que faz a vontade de Deus permanece eternamente" (1Jo 3, 17).
   E por fim: "Eu não sou o Messias". Essa frase de São João Batista é arrasante! Triturante! Só o power elevado à enésima potência meteorítica em escala infinitesimal.  Não quero perder a oportunidade de repetir muito sobre isso. Acho que preciso ouvir. Preciso saber, todos precisam e assumir essa consciência libertadora, iluminadora. Eu não sou o Messias, tu não és o Messias, ele não é o Messias, nós não somos o Messias, Vós não sois e Eles não são o Messias. Que bom. Evita confusão de papéis. O orgulho ou certos tipos de altivez ou de presunção nos fizeram pensar bobagens ou agir de forma insensata. A inteligência da fé nos levará a evitar tantas intelijumências mequetrefes e burroligências escorbúticas. Não tente ser um messias na vida de sua comunidade, nem das pessoas, nem da Igreja, nem do mundo. Sejas tu um mero colaborador do Messias, ou seja, de Jesus. Viver por Ele, n'Ele e com Ele, viver na sua vontade e trilhar essa experiência maravilhosa de ser seu amigo, irradiando-O para as pessoas, olha Filoteu isso sim, te ajudará a seres o que és! Acho que isso ilumina e liberta. O resto é engano, enrolação, embaçamento. Sabes aquelas estradas que levam nada a lugar nenhum? Pois bem, é quando queres ser o caminho. E o caminho é som um. O resto é atalho.
Abraço e bênção
Pe. Marcos.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

10º mandamento


Não se deve cobiçar os bens do próximo: “Não cobiçarás”

• Proíbe:


• A avidez enquanto desejo de apropriação desmedida dos bens terrenos;

• A inveja: designa tristeza diante do bem do outro e o desejo imoderado de sua apropriação. Gera ódio e maledicência.

• Jesus ensina: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos Céus” Mt 5, 3.

• O desejo da felicidade verdadeira liberta o coração humano do apego imoderado aos bens deste mundo, para se realizar na visão e na bem-aventurança de Deus.

8º mandamento:

“Não apresentarás um falso testemunho contra o teu próximo” (Ex 20, 16).
• Proíbe falsear a verdade e nas relações com os ou-tros. Deus é verdadeiro e ama a verdade. “Eu sou a verdade” (Jo 14, 6).

• O homem tende naturalmente para a verdade: é obrigado a honrá-la e testemunhá-la.

• “Os homens não poderiam viver juntos se não tivessem confiança recíproca” (Santo Tomás).

• Virtude da verdade: devolve ao outro o que lhe é devido (o outro tem direito à verdade).

• A verdade como retidão do agir e da palavra evita a duplicidade (ser fingido, ser hipócrita, fazer de conta, viver fazendo coisas escondidas)

• Veracidade: observa o justo meio entre o que deve ser expresso (dito) e o segredo a ser guardado.

• Ser honesto e ser discreto.

• TODOS GOZAM DE UM DIREITO NATURAL À HONRA DO PRÓPRIO NOME, À RE-PUTAÇÃO E AO SEU RESPEITO

• Este mandamento exige o testemunho da própria fé:

• O CRISTÃO NÃO SE ENVERGONHA DE DAR TESTEMUNHO DO SENHOR (2Tm 1, 8).

• O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé.

• Ofensas ao mandamento:

• FALSO TESTEMUNHO: emite-se publicamente pala-vra contrária à verdade;

• JUÍZO TEMERÁRIO: admitir como verdadeiro, sem fundamento suficiente, um defeito moral no pró-ximo.

• MALEDICÊNCIA: sem razões válidas, revela a pes-soas que não sabem, os defeitos e faltas dos outros

• CALÚNIA: os que com palavras contrárias à verdade, prejudicam a reputação dos outros e levantam falsos juízos a respeito delas.

• Ofensas ao mandamento:

• ADULAÇÃO: é grave quando o adulador é cúmplice de vícios e pecados graves;

• FARFARRONICE OU JACTÂNCIA: envaidecer-se, orgu-lhar-se;

• IRONIA: depreciar alguém caricaturando de modo malévolo, um ou outro aspecto de seu comporta-mento.

• + Diz o Senhor Jesus:

• “Não julgueis para não serdes julgados. Pois com o julgamento com que julgais, sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos. Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? Ou como poderás dizer ao teu irmão: ‘Deixa-me tirar o cisco do teu olho’ quando tu mesmo tens uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Mt 7, 1-5).

7º mandamento:

“Não roubarás”

(Ex 20, 15; Dt 5, 19; Mt 19, 18)


• Os bens da criação são destinados a todas as pessoas


• Existe o direito à propriedade privada;

• Permanece a responsabilidade pelo bem comum (todos são responsáveis pelo bem comum).

• É preciso não apegar-se aos bens e preservar os direitos do próximo.

• A solidariedade: expressão de caridade cristã.

ROUBAR: tirar o bem do outro contra a von-tade razoável do proprietário.

• toda maneira de tomar ou reter injustamente o bem do outro é pecado

• também reter deliberadamente os bens empres-tados ou objetos perdidos;

• defraudar no comércio;

• pagar salários injustos

• Este mandamento exige:

• Manter as promessas

• Observar rigorosamente os contratos

• Pagar as dívidas

• O respeito ao direito de propriedade

• O respeito aos princípios razoáveis de justiça social e distribuição de renda

• Oferecer condições de trabalho e salários adequados; ser sensível aos pobres

• “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros nos céus, onde nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam; pois onde está o teu tesouro aí estará o seu coração. (...).

• Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará a um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6, 19-21.24).



6º E 9º MANDAMENTOS

:“NÃO PECAR CONTRA A CASTIDADE”
“NÃO COBIÇAR MULHER DO PRÓXIMO”


• ESSES MANDAMENTOS ORIENTAM A CONSCIÊNCIA PARA A CASTIDADE


• CASTIDADE: VIRTUDE QUE INTEGRA CORRETAMENTE A SEXUALIDADE NA PESSOA E GERA UNIDADE INTERIOR.

• PROMOVE UMA AUTÊNTICA DOAÇÃO ENTRE AS PESSOAS.

• MEIOS PARA VIVER:

• AUTO-CONHECIMENTO (conhecer o próprio corpo, a própria estrutura psicológica, as próprias fraquezas)

• DISCIPLINA PESSOAL E DOMÍNIO DE SI (para gerar equilíbrio e sadia gestão dos próprios afetos e impulsos sexuais)

• A ORAÇÃO (A castidade é um dom a ser pedido a Deus)

• O PUDOR: orienta olhares, gestos, evita conversas impróprias, bem como roupas inadequadas.

• O prazer sexual

• Está ordenado =>

• à procriação

• e união dos esposos

POR ISSO: A BUSCA DO PRAZER SEXUAL FORA DO MATRIMÔNIO É ILÍCITO.

• PECADOS QUE FEREM A CASTIDADE:

– MASTURBAÇÃO (prazer venéreo obtido pela excitação voluntária dos órgãos genitais)

– FORNICAÇÃO: (uniões sexuais antes do matrimônio)

– PORNOGRAFIA: (assistir, ver ou ler conteúdos que visem uma mera excitação e prazer sexual)

– ESTUPRO: (uso de violência nas relações sexuais)

– ADULTÉRIO (manter contatos afetivo-sexuais com outras pessoas que não sejam o próprio cônjuge ou manter tal contato com pessoas casadas).

• “... Todo aquele que olhar para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela no seu coração. Caso teu olho te leve a pecar, arranca-o e lança-o fora de ti, pois é preferível que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. Caso a tua mão direita te leve a pecar, corta-a e lança-a para longe de ti, pois é preferível que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo vá para o inferno” (Mt 5, 27ss)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

5º MANDAMENTO “NÃO MATARÁS” (Ex 20, 13)


Só Deus é dono e tem poderes absolutos sobre a vida (desde sua concepção até o seu final)


A ninguém é permitido interromper a vida em seu desenvolvimento e ciclo natural

No caso de legítima defesa (recurso extremo para defender a própria vida é direito e dever, especialmente os responsáveis pelos outros).

Os assassinos e colaboradores do assassinato realizam um pecado grave.


Aborto (interrupção da gravidez em qualquer etapa de seu desdobramento)

Eutanásia (processo de interrupção da vida em estado de pessoas doentes, deficientes ou moribundas).

A interrupção de procedimentos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionais aos resultados esperados pode ser legítima.

O suicídio (interrupção da própria vida)


É ilícito e imoral produzir embriões humanos destinados a serem explorados como material biológico disponível;

Tentativas de intervenção sobre o patrimônio cromossômico ou genético são contrárias à dignidade humana.

ESCÂNDALO: atitude ou comportamento que leva o outro a praticar o mal.


Quem provoca o escândalo torna-se tentador do próximo.

Passa a ser falta grave se por omissão ou por ação levar o outro a também cometer uma falta grave.

É bastante grave quando realizado por um educador, uma autoridade e formador de opinião.

Também tal escândalo pode ser provocado:


Pela lei

Pelas instituições

Pela moda

Pela opinião

O cuidado da saúde: exige dos cidadãos e dos governantes oferecer a todos condições para obter:


Alimento

Vestuário

Moradia

Saúde

Educação

Emprego

Assistência social

São condenados:


O culto ao corpo

O abuso da comida, do álcool, do fumo e dos medicamentos.


O USO DE DROGAS É FALTA GRAVE E A PRODUÇÃO E TRÁFICO SÃO PRÁTICAS ESCANDALOSAS

SÃO TAMBÉM CONDENADOS:


Terrorismo

Tortura

Sequestro

A cólera (desejo de vingança)

O ódio (raiva ou rancor deliberado e alimento, de modo a desejar o mal do próximo)

A guerra só é lícita quando estão em jogo as obrigações pela defesa nacional;


Sempre será o último e extremo recurso a ser usado
 
“Ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘não matarás’; aquele que se encolerizar com seu irmão, terá de responder no tribunal; aquele que chamar ao seu irmão Cretino! estará sujeito ao julgamento do Sinédrio e aquele que lhe chamar Louco terá de responder no fogo do inferno” (Mt 5, 21-24)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Por uma paidéia democrática!


O tema da educação e pedagogia gregas constitui uma vitrine de notável importância para captar a visão humana e humanista que marcou a cultura grega. Berço das primeiras grandes conquistas do pensamento e das lapidares sínteses filosóficas, a Grécia teve produções geniais no campo da literatura e das artes. Por isso, tornou-se berço da cultura do mundo ocidental e da nossa sociedade. A valorização da pessoa humana e sua dignidade como também de sua liberdade foi fundamento da cultura grega. Tal está em contraste com as idéias das grandes civilizações antigas onde as pessoas individualmente eram mortificadas e usadas como elemento construtivo das pirâmides sociais, o que culmina no absolutismo de quem detém o poder. Prevalece aqui a classe guerreira. Também são influentes os escribas e detentores da cultura, bem como os funcionários daquela estrutura político-social na qual se enquadra a instrução.



Na cultura grega, nasce o ideal de formação do cidadão da pólis. Eis o ideal educativo expresso com a palavra Paideia. Entre seus pontos mais importantes cabe destacar:


1. Um grande senso do valor do homem: compreeendido em todas as energias e de todos os dotes da natureza humana, não tomados em abstrato, mas em concreto no indivíduo. Valor no senso de valentia, excelência, superioridade. Expresso tal valor compreensivamente pelo termo grego areté, traduzido aproximativamente como "virtude".

2. Disso resulta uma grande abertura a todos os valores humanos: desde os valores físicos (celebrados através das competições pan-helênicas e olimpíadas, perpetuadas pelos poetas e pelo pincel dos artistas), até os da inteligência (levados ao máximo nas escolas filosóficas e nas produções de arte) até aqueles da vontade e da liberdade (expressos na vida civil nas democráticas assembléias dos agorás e nas participações dos cidadãos das cidades-estado livres). Os agorás eram lugares onde os cidadãos se reuniam para falar livremente de seus problemas e dizer sem medo o que pensam, claro, sempre comprometidos com o bem comum. Aqui estamos diante de uma educação eminentemente humanista (pela tendência à formação de um homem ideal) e liberal (pela cordial aversão e prático descurar das atividades operosas e das formas de vida que eram consideradas indignas de um livre cidadão grego e digna somente dos escravos).

A paidéia era pois, a projeção sobre formação do cidadão onde a harmonia visava a fusão harmônica do belo e do bom. O belo da perfeição física e o bom entendido como resultante das mais variadas habilidades humanas de sabedoria, prudência, de cultura, de capacidade política. Com a democracia ateniense vem à baila um conceito de areté fundada na igualdade de todos perante a lei (isonomia) e o reconhecimento do papel decisivo das leis na educação cívica.

Sócrates (469-399 a.C.) educador da juventude, restabeleceu a confiança na validade objetiva da razão, através da descoberta do "conceito" que superando a subjetividade e os limites da sensibilidade colhe o que no conhecimento é universal e, portanto, objetivamente válido. Valores humanos tornam-se a base segura da educação. A orientação moral visa o fim do homem, a saber, a felicidade. E para atingi-la, ocorre percorrer um ordenamento virtuoso, inseparável com o reto conhecimento. A maieutica socrática, essencialmente dialógica, é marcada pelo ativismo didático e educativo. A educação constitui um processo interior. Platão (428-348 a.C.) apresenta a idéia como a fundação objetiva dos valores, mas continua a austera linha pedagógica, tanto do ponto de vista intelectivo (a contemplação filosófica da verdade) quanto do ponto de vista ético. Destaca-se a ascese, da separação do mundo das sombras para viver a reconquista das idéias como elemento fundamental da educação. Para ele, a virtude cardeais da prudência, justiça, fortaleza e temperança são fundamentais para o equilíbrio dos apetites. Destaque seja dado, no pensamento do filósofo, a figura dos filósofos-governantes enquanto educadores do povo. Chega-se, assim, à concepção do estado-educador e da educação como rigorosa função do estado. Algumas dimensões da educação em Platão merecem destaque, a saber: a dimensão do éros-educativo cuja metodologia é o amor que une educador-educando na gradual subida rumo ao "Bem" sumo. Aristóteles (384-322 a.C.) diz que o escopo da pedagogia e da educação é a felicidade. Esta constitui um harmonioso desenvolvimento e perfeição de todas as potencialidades à luz da racionalidade.

A história da pedagogia trás uma contribuição bastante válida, a meu ver, para que se colha a visão de homem que está por trás de toda uma ação educativa. Dos gregos, colheremos este ideal do homem livre, com direitos e deveres, capaz de participar ativamente da vida pública de uma maneira consciente e democrática. Escolher destinos, debater idéias, ser protagonista, ator e construtor no processo de fazer a polis acontecer: eis a paidéia democrática! Não um mero expectador passivo. E no substrato desta conquista titânica de alta envergadura política está, com certeza, a visão de pessoa humana que se articulou e difundiu na educação. Quando a ação educativa é cerceada ou mergulha em restrições ideológicas, ou quando certos populismos messiânicos tendem a domesticar os cidadãos ignaros em currais ou em circos onde imperam festas e esmolas, então não teremos liberdade em chave de democracia marcadamente participativa e consciente. É preciso multiplicar os agorás enquanto espaços de discussão dos problemas, de busca de solução, numa vivência participativa e operosa da política. Com efeito, política não se reduz ao que se discute ou se decide, se voto ou se executa no poder executivo ou legislativo. Os gestores públicos e os representantes do povo exercem em nome do povo o poder, mas todos são responsáveis com o bem de todos, ou seja, o bem comum. Se a escolha consciente pelo voto, de tais políticos faz da democracia um meio idôneo para o exercício do poder, então há que se ter presente a idoneidade moral e a capacidade adequada para o exercício de tais mandatos.

Não só nos períodos eleitorais, mas continuamente é preciso fazer acontecer e acionar os agorás. Sugere-se, pois, que uma educação focada na formação para a liberdade responsável, a partir de valores cívicos consolidados; tal foi o quinhão a nós transmitido pela cultura helênica. Cabe não deixá-lo esvair-se, a fim de que a política seja uma verdadeira busca do bem comum, sem imiscuir-se em tétricas falências éticas que só geram atraso e corrupção. A pessoa humana foi chamada a ser feliz. Os gregos visavam fortemente essa meta. E na liberdade, alicerçada e substanciada na verdade, a felicidade não faltará para juntar-se às suas inseparáveis companheiras. Com certeza, ao se falar de política como se viu acima, o bem comum é ponto de chegada, onde as instituições são ponto de passagem. Bem comum, onde o estado é educador por facilitar e animar não só o cultivo da prosperidade e do desenvolvimento sustentável, a partir do trabalho, cuidado com meio ambiente e incentivo da produção, bem como a distribuição o mais razoável quanto possível, de tais bens. Além disso, é também o educador, o incentivador e protetor das liberdades e direitos inalienáveis de todos e de cada indivíduo. Cabe ao estado ser guardião zeloso da vida desde sua concepção até o seu ocaso natural, da dignidade da família, da sociedade, da própria política, a liberdade de expressão e de culto religioso, bem como de convicções pessoais, desde que não atente aos princípios acima referidos, da justiça social e das condições de vida plena para todos. Há que se insistir nesse projeto político onde não haja mais espaço para figuras reconhecidamente incompetentes ou marcadas pelo descaso para com os princípios da ética na política e na gestão dos recursos públicos. Urge se precaver das pessoas que vivem uma ética oportunista em seus discursos de tempos de campanha. Jesus lembrou da necessidade de não se enganar com lobos fantasiados de ovelhas, em suma, importa buscar e fazer acontecer a paideia democrática!. Parece um sonho impossível? Será uma quimera? Uma utopia distante, da qual só nos resta rir ou abanar a cabeça dela desistindo? Quanto mais valores e sonhos são taxados como inatingíveis, mais inatingíveis eles se tornam, não em si mesmos mas para quem deles desistiu E por ter entregue os pontos, tal desistente ficou no meio do caminho, perdeu o trem da história e quem sabe, por sua atitude culposamente resignada, será lançado no lixo dessa mesma história que não quis ou teve medo de edificar.



Pe. Marcos Chagas.