sábado, 1 de novembro de 2008

No princípio era o Verbo! O verbo caro!


Caro Filoteu

Resolvi partilhar contigo umas considerações, muito simples, em forma de uma conversa com a Palavra eterna do Pai. Tu verás que, ao expor tais escritos, meu objetivo é ampliar esta contemplação a fim que contemples comigo e com Ele converses, fazendo-me companhia. Eu converso com Ele como Verbo caro que significa Palavra querida, ou seja, Palavra a quem me afeiçoei, por quem nutro estima. Queira o Pai que nossa amizade pela Palavra seja assim e cresça sem medidas. Um outro conceito de caro, vem do Latim. Caro quer dizer carne. Isso mesmo, a Palavra se fez carne. Peço que mergulhes comigo neste meu diálogo com o Verbo caro.


Aquele que no princípio era o Verbo (cfr. 1Jo 1,1), isto é, antes de todas as coisas, antes de tudo e de todos, na eternidade sublime e plena da adorável Trindade, Ele, Deus com o Pai, Ele consubstancial com o Altíssimo, eis que o contemplamos nos esplendores do seio paterno, gerado eternamente, segunda Pessoa da comunidade Trinitária. Vinde adoremos!

Eu me inclino ante a Ti, Verbo que és Palavra, isto é ação, força operativa, transformadora. Mas, Tu, ó Sabedoria eterna, não és uma mera idéia ou uma energia, nem um ilustre personagem que entrou na história. És Pessoa, um alguém real e verdadeiro. És Deus e És homem.

Falei que te contemplo. Quem vejo? Aquele que Deus revela ou quem meu egoísmo ou minha fantasia idealizante quer ver? Quem contemplo? Que sei de Ti? afinal, quem És?

Sigo com humildade os passos e orientações do teu apóstolo: "Ninguém jamais contemplou a Deus" (1Jo 4, 12). E por que? João denuncia os "espirituais" que se gabavam de conhecer a Deus por intuição direta. Além disso, o prólogo do evangelho joanino nos afirma peremptoriamente: "Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está voltado para o seio do Pai, este o deu a conhecer" (1Jo 1, 18). E ainda, nas palavras que brotaram de tua própria boca, Tu que és a Palavra: "Também o Pai que me enviou dá testemunho de mim. Jamais ouvistes a sua voz, nem contemplastes a sua face" (Jo 5, 37). Ó meu bom e misericordioso Redentor, eu te rogo por teus infinitos méritos: Leva-nos a todos a compreender e acolher a grande verdade de que a comunhão e a visão estão unidas! Não nos é possível ver-Te se não estamos em unidade, pelo Teu Espírito, contigo e com o Pai que te enviou a nós! Ele que é Teu e nosso Pai. Tal unidade contigo significa necessariamente comunhão com os pastores que legitimamente colocaste à frente de tua Igreja e todos quantos, apesar de suas fraquezas humanas, devem nos conduzir, são mediadores de tua vontade, exceto se estiverem afastando-nos de teus mandamentos ou da verdade ensinada oficialmente por tua Igreja. Estar em comunhão contigo significa viver em fraternidade, reconciliar-se, amar na gratuidade. Em suma, ver-Te está longe da presunção de ver tudo quanto a humana vaidade me faz ver sobre Deus ou sobre o Reino presente em Tua Igreja. Não por nada, os dois discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 30-35) ao contemplarem a Ti, ó sol divino ressuscitado, ao verem aquele pão partido por tuas mãos santas e veneráveis, de repente, diante deles desapareceste. E logo no melhor da festa! Que fizeste, meu Senhor? Não querias fartar aqueles olhos dos discípulos com o esplendor de Tua glória? Sim, entendo bem. Desapareceste de sua vista exatamente para que te encontrassem na comunidade, junto com os demais. E para tanto, o medo da escuridão, a apreensão do dia a declinar deixou de ser um problema. O medo desapareceu pois as verdadeiras trevas que eram as dúvidas, a incredulidade, uma leitura superficial dos acontecimento, tanta escuridão foi eclipsada pela tua luz cheia de fulgor, ó divino ressuscitado.

Para nós outros, que acreditamos no testemunho dos apóstolos, nós que deles recebemos a fé, trilhamos o caminho seguro. E qual é esse caminho seguro, senão caminhar na comunhão, iluminados pela bruxuleante luz da lamparina da fé, alimentada pelo combustível da caridade? Que engano perigoso é este de amparar-se nas certezas pessoais de visões "luminosas" sem este imprescindível aval de uma comunidade regida pela autoridade apostólica! Tal autoridade tem o selo de tuas palavras: "tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu" (Mt 18,18). Como se não fosse o bastante, prometeste tua inefável presença onde dois ou mais estiverem reunidos em Teu nome (cf. Mt 18, 20).

Verbo caro, és Palavra-ação. Então, tudo recebeu vida, existência por meio de Ti. És a vida (cf. Jo 14, 6) que me arrancas da morte. E por seres vida, és luz (cf. 1Jo 1, 4); com efeito, Tu te auto-proclamaste a luz do mundo e quem te segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida (cf. Jo 8, 12). Seguir-Te significa dissipar as trevas que continuamente brotam em nós. Como João, o enviado de Deus, somos testemunhas da luz (e tomará que o sejamos de fato!). Mas, eu sou trevas, como poderia ser testemunha da luz?

Ó Verbo caro, Tu és a verdadeira luz que iluminas todo homem. Basta deixar-me iluminar por Ti e cumprirei minha missão de ser testemunha da luz. Por isso, faço-Te esta pergunta: Que significa deixar-se iluminar por esta luz? Enquanto me pergunto, recordo-me de uma musiquinha que marcou meu passado:

"Minha luz é Jesus, e Jesus me conduz, pelos caminhos da paz"

E ainda,

"Deixa a luz do céu entrar, deixa a luz do céu entrar, abre bem as portas do teu coração e deixa a luz do céu entrar".

E ainda mais um música que nem da Igreja era, mas carrega consigo uma capacidade forte de evocar este convite a acolher a luz:

"Abre a porta e a janela e vem ver o sol nascer".

Deixar-se iluminar é expor-se a Ti, Jesus, sol divino e, com os raios de Tua beleza, de Tua verdade e de Tua bondade colher as graças com que nos prodigalizas.

Deixar-se iluminar efetiva e afetivamente, progredir em docilidade, abertura é deixar-se trabalhar, podar, plasmar, moldar, receber os acabamentos de tuas habilidosas mãos de artesão da mais refinada perfeição. Deixar-se iluminar é dispor-se a elotrocultar-se com aquelas descargas elétricas fulminantes de tua ressurreição. Fulminantes, entenda-se, par tudo quanto está morto em nós, em função do obscurantismo do pecado. Ou seja, exatamente aquilo que em tua Palavra o discípulo amado descreve como "o mundo não o reconheceu" (cf. 1Jo 1, 10). Ou de maneira mais contundente, "Veio para o que era seu e os seus não o receberam" (cf. 1Jo 1, 11).

Deixo aqui ó caro Senhor, meu pedido para sempre te recebamos. Eu e teus filoteus queremos viver a experiência de sermos tuas Betânias, tuas moradas, teu lugar de repouso. Nossa amizade, é Verbo caro se traduza não em meros sentimentos, mas em vida comprometida, acolhida e ofertada.

A ti, Filoteu deixo este diálogo para que nele mergulhes e neles te percas e te encontres com aquela simplicidade e profundidade que os verdadeiros adoradores em espírito e verdade ousam viver.

Voltaremos a dialogar com o Verbo caro!

Abraço e bênção, deste filoteu, Pe. Marcos.

sábado, 18 de outubro de 2008

Sugestões para Ler a Palavra de Deus.

São Jerônimo, presbítero e Doutor da Igreja, homem apaixonado pela Palavra de Deus, viveu no séc. IV e é o patrono dos biblistas, .








Sugestões para ler a Palavra de Deus....


8 Ler a Palavra de Deus (em oração e meditando-a. Ela é o metro para medir os eventos da história contemporânea, para acolher o apelo divino, para compreender se tais eventos estão na direção certa ou não. E qual é a direção certa? É a direção da história da salvação.


8 Caminhar com a Igreja, com sua orientação: acolher o que pensam os irmãos na fé e sobretudo a partir das orientações do sucessor de Pedro (o Papa) e o sucessor dos apóstolos (o bispo local) num clima de comunhão e unidade.


8 Ser humilde e sensível aos apelos do Espírito Santo que é infinitamente livre e ininterruptamente operante na história, sem a pretensão de termos conseguido a intuição definitiva da verdade.

Caro Filoteu, postei esta série de comentários para homenagear um monge sacerdote que viveu no IV século. Seu nome era Jerônimo. Este homem amava profundamente a Sagrada Escritura, tanto é que fez um trabalho magistral de traduzi-la do hebraico e do grego para o Latim (um grande feito em sua época). Ele dizia que "ignorar as Escrituras é ignorar Cristo". Hoje, 30 de setembro, é sua festa litúrgica. Que ele nos inspire para que a Palavra do Senhor seja "luz para nossos olhos e lâmpada para nossos pés" (Sl 118, 105).

Que teu amor pela Palavra do Senhor te faça um alguém apegado à verdade que nos faz livres.

Meu abraço e minha bênção, Pe. Marcos

A Palavra se fez gente e permaneceu conosco!

"Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como certo; tu sabes de quem o aprendeste. Desde a tua infância conheces as sagradas letras; elas têm o poder de comunicar-te a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda boa obra" 2Tm 3, 14-17.


As ações de Deus e de Jesus Cristo chegaram a nós através da tradição. Não se trata diretamente dos fatos, mas do testemunho dos fatos e o testemunho dos fatos são os relatos. Uma palavra os transmitiu e interpretou. Assim, a Bíblia é o relato e a interpretação para nós da aventura de Deus com os homens na história e através da história. Nós nos revelamos através dos nossos gestos (bem mais que através de nossas palavras). Assim, as ações de Deus na história revelam a sua misericórdia e a sua fidelidade. A palavra é a intérprete dos fatos e a profecia é a interpretação do ponto de vista de Deus dos grandes gestos. A profecia é história interpretada, ou seja, narrando a história ela descobre e manifesta o sentido de Deus nos eventos de Israel, relaciona a história do passado como o que se deve ou deveria ser no presente, com o que acontecerá no futuro. A história da salvação espera ser reinterpretada, representada e vivida por todas as gerações de pessoas de fé, em cada época de sua história. É muito forte, por exemplo, na cultura hebraica e na religião dos judeus o fazer memória. Eles voltavam-se para os fatos do passado através de narrações e com isso eles atualizavam, tornavam presente hoje a ação de Deus que é uma ação salvífica. Os eventos salvíficos não são fatos que morreram com o passado, mas quando são recordados, estes fatos de salvação retornam com toda a força renovando a esperança, a fé e o amor de um povo chamado a acreditar na presença e na fidelidade de um Deus que constrói com seus eleitos uma aliança que é para sempre. Esse fazer memória é um tomar consciência da Presença que salva, é acolher a revelação. Ora, o Dabar Iahweh (a Palavra de Deus) é bem mais que uma palavra pensada, é um evento. A Dabar (palavra) promete um futuro, lança a pessoa no seu porvir, dando um sentido, um destino, a razão da existência. O ponto mais alto desta revelação aconteceu com Jesus Cristo, a Palavra de Deus que se fez carne a armou a sua tenda entre os homens (cf. Jo 1,1-14).

Assim, aderir à Palavra significa aderir a uma Pessoa, Jesus Cristo. A Palavra bíblico-cristã quer obediência, mais do que reflexão. A reflexão está em função da obediência, do ouvir para cumprir. Assim, Jesus Cristo é mediador e plenitude de toda a revelação, uma vez que ele é ao mesmo tempo, mensageiro e conteúdo da mensagem, o revelador e o revelado. A face de Deus é revelada na Palavra pela qual Deus se faz ver e conhecer. Uma vez que a revelação acontece na história, isso quer dizer que o tempo da revelação é um tempo de progresso. A progressividade da revelação divina indica a pedagogia de um Deus que deseja caminhar conosco e se determina em dosar a sua revelação à capacidade de compreensão do homem e à sua sensibilidade humana. Assim, as grandes verdades sobre Deus, sobre o homem, sobre a salvação-redenção, sobre a aliança entre Deus e seu povo, sobre a Igreja-povo de Deus se aprofundam e se purificam no decurso da revelação histórica. A vida humana é um processo gradativo, gradual e por isso é dinâmica.

A revelação vai exigindo a fé como resposta amorosa ao Deus que se revela. Por isso, ter fé significa crer e crer não se reduz a admitir uma ou mais doutrinas, aderir a uma ou mais verdades de fé sob a autoridade do Deus que se revela ou apenas saber que Deus existe ou mesmo viver uma vida descomprometida com a fé professada. Crer é, sobretudo, pronunciar e viver um sim que engaja todo o homem, no conhecimento e no amor, em alegre e real obediência a Deus. Ao Deus que se revela é devida a obediência da fé (cf. Rm 16,26). Trata-se de uma rejeição a tudo o que não corresponde ao compromisso com esta fé. A Igreja, comunidade dos batizados, reunidos pela unidade da Trindade, é feita por aqueles que ouvem a Palavra de Deus para pô-la em prática. Ao colocá-la em prática estes cristãos podem compreendê-la melhor. Deste modo, acolher a mensagem significa experimentá-la. Deus fala também por meio da existência de cada um, através dos grandes eventos da história contemporânea, desde que os cristãos saibam ler a vida e a história com os critérios que a história da salvação nos oferece, à luz da Palavra de Deus presente na Escritura. Deus entra na vida das pessoas, dando uma configuração, um sentido. Tendo por base a experiência histórica (pessoal, do mundo, da Igreja), o indivíduo que tem fé pode, iluminado pela Bíblia dar um sentido aos acontecimentos da própria vida. Assim, a vida de quem crê vai se tornando revelação para si e para os outros

As três funções da Palavra

"Tua Palavra Senhor é luz para os meus olhos e lâmpada para meus pés"
(Sl 118, 105)
Envio para ti, caro Filoteu, algumas reflexões sobre a Palavra de Deus. O tempo é propício, nestes dias em que a Igreja se debruça, no sínodo da Palavra, sobre este tesouro que o Pai, pelo Filho, no Espírito Santo nos concedeu. Talvez sejam estas reflexões dotadas de um conteúdo um tanto acadêmico, mas aposto no conteúdo...

As funções da Palavra



1.1. As três funções da Palavra:- A informação: a palavra informa sobre fatos, acontecimentos e coisas. É uma função mais objetiva e diz respeito à ciência, à didática e à historiografia.- é expressão: quem fala se exprime, ou seja, diz alguma coisa de si mesmo. Um rosto inexpressível não seria um rosto humano. Exprimir-se significa por em movimento o próprio ser, sair de si e correr os riscos disso. Significa também desmarcar pelo mínimo possível a própria interioridade. - é apelo: porque a pessoa humana é um ser que se relaciona. O Adão bíblico dá um nome aos animais mas não se relaciona aos animais “tu a tu”. Ele necessitava de um alguém que lhe fosse semelhante (Cf. Gn 2,18). A pessoa humana vive para o encontro e a comunicação é um poderoso veículo deste encontro. A palavra é uma ponte, um traço de união.


1.2. a palavra é criativaA palavra não é apenas sopro e som, mas possui uma força criativa, toca, prende liberta. Algo da transcendência do ser pessoa humana manifesta-se e comunica-se nela. A palavra dá a cada um a revelação de si na relação recíproca com o outro. O eu se revela a um tu e vice-versa e desta comunicação surge a unidade do nós. Nasce uma comunidade (comum unidade), bem diferente da massa de gente, um amontoado de anônimos que se reduz a uma mera coletividade.


1.3. A linguagem da amizade e do amor:Na amizade e no amor, as revelações se tornam mais profundas e tantas coisas escondidas saem do silêncio e se tornam partilha. O eu mais profundo vive seu revolucionário processo de doação na força da confiança que brota da liberdade. Essa revelação inédita vai desencadear o processo nunca acabado da revelação de si e do outro. Eu me conheço melhor na medida em que me revelo a um outro. O fascínio e a força da presença do amigo enchem de encanto e de eficácia a palavra pronunciada como revelação corajosa. Quem se revela sabe de estar sendo acolhido de maneira hospitaleira no coração do amigo que o escuta. Deus colocou o homem no mundo para que ele viva.

2. A PALAVRA AMIGA DE DEUS
"O Deus invisível, na riqueza do seu amor, fala aos homens como amigos e conversa com eles para os convidar e admitir a participarem de sua própria vida" (Constituição Dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II sobre a revelação cristã). Querendo revelar-se, Deus falou aos homens e mulheres usando uma linguagem humana para dialogar tendo em vista criar sólidos laços de amizade a fim de conduzir à comunhão consigo todos os que se abrirem à sua proposta de amor.Já no Antigo Testamento, a Bíblia expõe a ligação que Moisés tem com Deus: "O Senhor falava com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo" (Ex 33, 11). O escritor bíblico procurou exprimir a inexprimível intimidade de Deus com Moisés através do diálogo amigável, veículo de profunda comunhão. Moisés tem uma grande missão, uma enorme responsabilidade de conduzir o povo que fora libertado pelo poder de Deus da casa da escravidão no Egito. Este encargo explica a sede de contemplação que brota como uma torrente no seu coração. A revelação, antes de fazer conhecer alguma coisa, é um colocar-se diante de alguém, o Deus vivo em Jesus Cristo. A revelação é uma relação sobrenatural. Deus assumiu a iniciativa nessa comunicação: O Verbo de Deus se exprime com a Encarnação e depois com o Evangelho. A história da salvação narra precisamente este longo e variado diálogo que parte de Deus e mantém com o homem uma conversação variada e maravilhosa. Nessa conversa de Cristo com os homens, Deus faz compreender alguma coisa de si mesmo, o mistério de sua vida, absolutamente una na sua essência e trina nas Pessoas. Neste mistério Ele diz como deseja ser conhecido: como Amor e assim deseja ser honrado e servido. O diálogo se torna pleno e confiante. (AA 56, 1964).
Por isso, a resposta a esse diálogo é a fé. Crer em Jesus Cristo significa para o Evangelho de João, seguir Jesus, ou seja, assumir o seu projeto. Foi assim, que os discípulos tornaram-se amigos de Jesus, sobretudo porque Ele comunicou-lhes toda a revelação e, mediante o dom do Espírito Santo, fará com que compreendam.
Portanto:
4 ao revelar-se, Deus fala a linguagem da amizade e do amor. Deus chama e os chamados formam a assembléia dos convocados (ekklesìa)
4A Palavra de Deus se torna manifestação do homem a si mesmo, torna-se auto-compreensão. Conhecer a Deus necessariamente levará a pessoa a conhecer-se.
4 O homem conhece a si mesmo e a plenitude do seu ser e do seu destino não por aquilo que ele mesmo produz, procura ou obtém através das conquistas através da experiência ativa, mas ouvindo a Palavra de Deus. E a Palavra de Deus nos falará do Ser Divino, Pleno, total que fez o homem e a mulher à sua imagem e semelhança que também são seres humanos. Deus chama a pessoa a ser e depois fazer. O homem é e por isso faz e nunca faz e por isso é!
4 Deus quando se revela, isto é, fala de si, dá-se a conhecer para convidar as pessoas humanas a entrarem em comunhão com eles.
4 O objeto desta revelação é a vida eterna [incorruptível juventude, vida sem fim]. O modo como essa vida eterna se revela não é apenas com palavras, mas com sua presença ativa, com todo o seu ser. A Palavra de Deus é uma Pessoa (não um conteúdo doutrinal, apenas): Cristo, Palavra de Deus feita carne, é a grande manifestação do Pai.
4 A Igreja (comunidade dos que acreditam), antes de viver o papel de ensinar (ser mestra), deve assumir o papel de ser discípula (aprender, escutar). A Igreja perpetua e transmite tudo o que ela é, tudo que ela crê. Os instrumentos da tradição da Igreja são: sua doutrina, sua vida, seu culto.
4 A Sagrada Escritura deve ser lida como obra de linguagem total, ou seja, todos os elementos desta comunicação (cultura do povo, os significados, a realidade, enfim, todo o contexto que esclarece o texto) ajudam a delinear a obra em que Deus me fala.  A Palavra de Deus deve ser, antes de tudo, ouvida, ou seja, a espiritualidade bíblica deve ser primariamente uma espiritualidade da audição de um interlocutor presente. A audição é a primeira atitude do diálogo. E o desembocar espontâneo do fluir da revelação divina é a acolhida (obediência) por meio da fé.
4A Palavra de Deus apresenta a revelação de modo popular, simples, não científico por causa da mentalidade e da cultura do homem judeu (ligado aos limites do seu tempo). Assim, a pregação e a formação bíblica tem o papel de completar, atualizar o que foi dito de um modo que para nós é incompleto na forma de expressão. A essência do conteúdo permanece, mas a expressão deste conteúdo exige uma atualização.

A REVELAÇÃO DE DEUS ACONTECE NA HISTÓRIA
O Deus que se revela é um Deus que age; Ele é presença e atua em parceria com o homem por ele criado à sua imagem e semelhança.O tempo é a matéria prima da vida. Ora, o tempo se desdobra na história e esta mesma história é construída e narrada por homens que nascem crescem e morrem. Geram outras vidas que por sua vez continuarão o processo de construção do mundo, descobrindo coisas novas, oferecendo novas contribuições tanto positivas quanto negativas para a humanidade no seu processo histórico de auto-descoberta e autoconstrução.A Bíblia nos descreve este processo acontecendo a partir de homens e mulheres que foram construindo com Deus, dentro da história e nunca fora dela, a revelação e a salvação. Esta ação é carregada de comunicação. Palavra é sinônimo de ação em Deus. Por isso, a história acontece pela ação das pessoas no tempo. Ora, na história Deus se comunica e por isso age. Assim a história está cheia da comunicação divina: Ele fala, interpela as pessoas, entra em relação com elas. A expressão máxima da revelação de Deus encontra no seu Filho Jesus Cristo o ponto mais alto de sua atuação histórica. A chegada do Salvador foi uma verdadeira plenitude dos tempos. Essa revelação aconteceu quando Jesus se fez um alguém histórico (um alguém que está no tempo e no espaço, que cresce, sofre, se alegra, faz parte de uma cultura, fala uma determinada língua, etc).
Continua em uma próxima postagem...
Um abraço para você Filoteu. Meu desejo é que esta reflexão te faça amigo da Palavra de Deus e se sinta abraçado por Ela...
Pe. Marcos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

conscientes - consequentes - coerentes

DAR TUDO O QUE TEM

DAR TUDO O QUE SE É, DAR-SE SEMPRE

SEM JAMAIS ACABAR DE DAR-SE

- É A LIÇÃO PROFUNDA DE ALEGRIA E DE PAZ

QUE AOS AMIGOS DA TERRA, DÃO E DARÃO

PARA TODO O SEMPRE, OS TRÊS AMIGOS

INCOMPARÁVEIS QUE SE CONSUMAM NA UNI-

DADE. Dom Helder Câmara.





Caro Filoteu,





Nesta vida e em vista da vida futura, é preciso ser:





Solidamente consciente





Claramente conseqüente





Radicalmente coerente





E assim, liberto dos vitimismos, das initerruptas justificações, dos subterfúgios, das divagações esvaziantes, dos espiritualismos desencarnados e fideístas ou dos racionalismos materializantes, enfim, é preciso engajar-se em uma ruptura corajosa com tudo quanto te desumaniza ou te afasta da novidade revolucionária do Evangelho.





Seja a vontade do Senhor o teu pão, tua água, tua estrada e tua luz. Sem ela te perderás no caminho ou teu caminho será um mero atalho, tua vida, uma sobrevida fadada a ser morte, tua verdade condenada a ser uma mentira, uma falácia sagaz e enganadora, ferina em seus ardis.





Caro Filoteu, vida doada, longe de ser uma abstração vaga, constitui uma vivência cheia de vigor, em ritmo de retroalimentação, uma atitude efetiva e afetiva. Ante os fatos e apelos da realidade que envolve coisas, pessoas, organizações e estruturas, é mister contemplar Aquele que nos olha e seu mistério de amor. Ele é o Deus comunidade na unidade. Irradiá-lo nada mais é do que transbordá-lo de modo contínuo, como o copo debaixo de uma torneira aberta: nada mais é do que uma realidade cuja ocupação é deixar transbordar o que recebe! Eis nossa missão!





Ser consciente é viver na solidez desta verdade, na força infinita da substância de quem se revela e deixá-lo guiar, plasmar, formar, conduzir e conduzir quem somos e o que fazemos. É dar passos, fazer opções, dar rumos na clareza das opções, na nitidez da visão, no rumo da fé, no prumo da caridade, na âncora da esperança. É aderir, na sua totalidade, a sabedoria que brota do alto do pensamento do Pai e que se encarna, no vigor vivificante do Espírito, na baixeza da cruz, na pequenez e pobreza do presépio, na sublimidade inefável do sacramento do altar.





Ser consequente é medir todas as coisas na perspectiva da eternidade, do definitivo, lançando com destemor a profecia em forma de denúncia a tudo quanto camufla, desbota ou nega, sufoca ou impede a concretização initerrupta deste desejo de Céu e de Deus presente no homem e na mulher. Uma denúncia da ditadura do relativismo com todos os seus tentáculos paralisadores. Ter clareza é enxergar as coisas assim como são, em suas devidas proporções, em sua consistência, longe das ilusões fantasiosas, tendo o querer de Deus como metro!





Ser coerente é caminhar na busca incansável de ser quem somos chamados a ser. Significa não desistir nunca de uma radicalidade sadia, necessária, criativa, feita de totalidade, a qual, divergindo do sectarismo ou do radicalismo, tenciona ser um viver intensamente a partir das próprias raízes fincadas nas profundidades deste chão que é o alicerce de Deus....





Rezo por ti, Filoteu, para que isso aconteça em ti.





Te abençoo em nome d'Ele, nosso Amigo e Irmão, Senhor e Deus.





Pe. Marcos.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Ainda que....

De uma antiga oração hebraica:

Mesmo que a nossa boca estivesse cheia de hinos como as águas enchem o mar,
mesmo que nossa boca se enchesse de cânticos, como numerosas são suas ondas;
se nossos lábios estivessem cheios de louvor como se estende o firmamento no alto do céu;
ainda que nossos olhos fossem luminosos como o sol e a lua e nossos braços fossem longos como as asas abertas da águia em pleno vôo no céu, ainda que nossos pés fossem velozes como o dos cervos, nós nunca poderíamos agradecer-te o suficiente, ó Senhor nosso Deus, e bendizer o teu nome ó Altíssimo por um só dos milhares de miríades de benefícios e de maravilhas que Tu realizaste por nós e por nossos pais ao longo da história.

Deixo a ti, Filoteu, esta mensagem de louvor e ação de graças.

Bênção e abraço do Padre.

domingo, 5 de outubro de 2008

Os filoteus de outubro

Querido Filoteu

+ PAZ a ti!

Mês de outubro. Mês de alguns filoteus muito especiais: Teresinha, Francisco, Teresa e Margarida Maria. Pessoas que viveram a amizade de Deus em grau muito elevado, deixaram-se amar por aquele amor desconcertante e muito particular de Deus. Tudo nele é construido na gratuidade e na infinita liberdade, feita de soberania misteriosa e que vai além e muito além de tudo quanto pensamos, queremos, fazemos ou supomos.

A Trindade conduziu estes filoteus por caminhos estreitos, onde o esvaziar-se foi tomando conotações radicais, totalizantes. Tiveram que se abaixar, diminuir, deixar pelo caminho seguranças, cargas e cargos, certezas e afetos, deixar os pesos, as amarras, enfim, "... o que para mim era lucro eu o tive como perda, por amor a Cristo" (Flp 3, 7). Deus os submeteu, eles deixaram-se submeter, assumiram o doce jugo e por fim, Deus submeteu-se a eles, dando-se irrevogavelmente. Tornaram-se uma coisa só com o Amigo. É o que nos descreve Paulo: "para mim viver é Cristo" (Flp 1, 21), ou ainda "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2, 20). Com efeito, Ele não se relaciona com pedaços ou com partes de seus amigos, mas com a totalidade deles. Impressionante e nos faz refletir!

Estes filoteus me animam, me encorajam e me elevam, ao mesmo tempo me denunciam, me passam na cara certas coisas, me jogam no chão. Entenda bem, o problema não são eles, mas minha postura diante deles e do que eles escolheram e viveram. Ele toparam o desafio de viver a lógica sem lógica da gratuidade infinita de um Deus que ama, que é amor e por isso "não sabe calcular". Decidiram passar pela porta estreita do não saber, do não ser, do não ter, enfim do nada para na liberdade jogada na confiança e no abandono, saber, ser e ter segundo Deus. Acreditaram que é Deus quem operava neles o querer e o operar, segundo sua vontade (cf. Flp 2, 13). E estes filoteus assumiram a iniciativa de um "Deus (que) protagoniza a decidida aventura de relacionar-se com o homem, o que vai resultar na história real de uma profunda pertença mútua, no irrevogável 'para sempre' do Amigo ..." (ANDRADE, 2007, 32). Importa acreditar no poder desta amizade, pois ele é o Todo Poderoso, "cujo poder, agindo em nós, é capaz de fazer muito além, infinitamente além de tudo o que nós podemos pedir ou conceber" (Ef 3, 20).

Caro filoteu, pensei muito no comentário que a Elena, uma amiga que mora em Israel fez sobre Betânia, a cidade onde está a casa da amizade: "Betânia! Cidade muito suja e bagunçada, pobre e meio abandonada pelas autoridades palestinas por estar muito próxima de Belém que é território palestino". Eis um retrato de nossas Betânias interiores: sujas, bagunçadas, pobres, meio abandonadas por nossa falta de coragem e determinação em agir e mudar, próximas a Belém (casa do pão) que é Jesus, pão da vida, nossa vida, em território feito de gente sem poder. Afinal, somos alguns pobres diabos, degredados filhos de Eva, gente interesseira, sempre a mendigar as miseráveis consolações e gratificações que as criaturas venham a nos oferecer; Pasme só filoteu, a estes pobres diabos, Aquele que só sabe amar irrompe, quebra, rasga, interrompe, muda, desmancha para ser possível aquele mergulho na mentalidade outra por Ele proposta. Mas, mesmo assim, o Amigo insiste teimosamente em fazer acontecer esta experiência de amizade. Ouvi uma pessoa dizer que "o desejo que Deus tem de salvar o mundo é muito maior que todos os pecados do mundo". Ante esta insistência divina não me ponho a tentar entender. Acho mais razoável tentar de acolher e adorar. Estamos diante do mistério que nos transcende, vai além, muito além de nós mesmos...

Enfim, diante desta graça de eleição que repousa sobre nós, apesar dos pesares, faço minhas as palavras do profeta e do apóstolo: "Quem com efeito, conheceu o pensamento do Senhor? Ou quem se tornou seu conselheiro? Ou quem primeiro lhe fez o dom para receber em troca? Porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos! Amém" (Rm 11, 34-36, cf. Is 40, 13.28).

Um abraço e uma bênção do padre para você!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Filoteus e Filisteus

Meu caro amigo e Bom Senhor de Betânia

Faço minha prece por teus filoteus. Não sejam eles filisteus, ou seja, quem foi chamado, por pura gratuidade a ser amigo, não seja do teu povo o inimigo.

Para ti, Filoteu eu pergunto: que significa ser inimigo do povo de Deus? Nada mais, nada menos que um agente de separação. Filisteu é aquele que separa as pessoas de Deus e Deus das pessoas. Afastar as pessoas de Deus. Quem foi chamado a ser luz, escurece; quem foi chamado a dar gosto, é insosso; quem foi chamado a guiar, desvia; quem foi chamado a dar a vida, mata; quem foi chamado a amar, odeia, despreza e engana; quem foi chamado a servir, explora e se serve; quem foi chamado a ser imagem de Deus que salva, torna-se imagem do espírito do mal que perde;

Um filoteu não pode ser um filisteu!

Um filoteu é um amigo do Amigo e por causa do Amigo ama construindo pontes, para ampliar fronteiras da amizade.

Um filisteu, por viver na sua ilha de egoísmo, se perde em sua asfixiante centralização. Por não amar na ótica transfiguradora da gratuidade, poupa-se e das pessoas, busca o que lhe serve ou o que lhe agrada. E depois..., as descarta!

Caro filoteu, lembra-te que a lei da gratuidade é uma lei exigente: desinstala, desaloja, mobiliza, e por isso fortalece.

Que o Senhor esteja contigo valente guerreiro, corajoso combatente. Se pegares as armas pobres e humildes que o Amigo Divino coloca em tuas mãos e se fores para a luta confiando Naquele que nos faz mais que vencedores, eu te asseguro a vitória sobre o filisteu arrogante que em ti habita.

Tu não deves esquecer das palavras do apóstolo: "Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm 8, 28). Encarrega-te, ocupa-te (sem preocupar-te) em amar o Amigo de Betânia. Amarás com aquilo que és, que podes e que tens e tudo, absolutamente tudo, ser-te-á de proveito e lucro.

Na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, teu papel e tua razão de ser e de existir, caro filoteu, é amar e repeitar o Amigo. Tua vida será uma Betânia construída pelas desfigurações e transfigurações, conforme as disposições e permissões Daquele que ama. teu papel é acolher e responder. Estará em tu dedo anular da mão esquerda o anel da aliança da alma esposa Daquele que foi crucificado por amor e perenemente nos alegrou com sua feliz ressurreição! Toma consciência de tua felicidade, tu que és amigo de Deus na casa da amizade!

Abraço e bênção do teu, Pe. Marcos.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Disponíveis como argila

Caro filoteu de Betânia

+ PAZ!

Encontrei nos meus arquivos este material. Não sei de quem é, não é minha autoria, mas achei tão oportuno para quem deseja ser amigo do Amigo que pensei em ti. Achei tua cara, achei que é a tua vocação, tua felicidade. Resolvi partilhá-lo.

"O Senhor plasmou o homem e a mulher com o pó da terra".

Eu, naquele entardecer da criação, senti passos no jardim. Era Ele, o Senhor da criação. Acontece que, nesse entardecer, Ele parou, inclinando-se como um olhar carregado de amor. E, de repente, juntou-me do chão, a mim, pobre e pequeno punhado de terra, e ficou a me olhar pensativo... Remexeu-me longamente..., longamente..., com todo carinho.

E então, comeou a me amassar,. Primeiro tirou de mim uma porção de impurezas que o atrapalhavam: pedrinhas, pedrinhas, pacinhos de pau, ciscos. E eu fui ficando terra pura, do seu gosto. Fez ainda outras operações, que eu não compreendia, nem poderia compreender. Pode por acaso um vaso dizer ao Oleiro: eu entendo de disto mais que você?

Eu nada perguntei. Oferecia simplesmente o meu ser em disponibilidade de amor. Deixava-me trabalhar. Deixava que Ele me fizesse. Porque eu sabia que era obra sua e que Ele transformava com amor.

De fato, fui tomando forma. Uma forma à maneira sua, à sua imagem. Para que haveria eu de servir no futuro? Eu não o sabia. "Como a argila na mão do oleiro, assim estava eu em suas mãos". E eu fui me tornando obra de Deus. "E ele aplicava seu coração em aperfeiçoar-me, pondo cuidado vigilante em tornar-me belo e perfeito.

Depois veio uma etapa difícil, porque foi um forno superaquecido que ao barro veio dar força e consistência: É o calor e o valor de minha vida, que levam a bom termo a obra de suas mãos, ó Senhor Criador. A cada vaso muito querido, ela dá contornos de eternidade. Então comecei a olhar em torno a mim. E descobri outros vasos que suas mãos hábeis e cheias de amor haviam amassado e modelado artisticamente. Sem cansar-se dava ele mais outra mão àqueles que não haviam saído bem. Cada um tinha sua forma e sua cor, sem dúvida. Ele não faz produção em série. Cada vaso é único, conforme a sua destinação no mundo. Mas, do mais humilde ao mais rico, todos eram lindos, todos bem feitos. Ele nos tinha feito como ele bem queria...

"Pode porventura um vaso, perguntar ao oleiro: por que me fizeste assim?"

Querido Amigo e Senhor, Oleiro divino que tudo fazes com Amor, permite que se cumpra em mim a obra que começaste. Seja o meu projeto, o Teu projeto sobre mim. Amém!

Leia e reze com Jer 18, 1-6. Abraço e bênção.

sábado, 2 de agosto de 2008

Quem chega em Betânia....

Caro Filoteu

Quem chega em Betânia, recordará os passos de Jesus. Na escuta da Palavra de Deus, no silêncio do Sacrário nascem forças inusitadas, tremendamente liquidificantes para dinamizar o coração.
Forças capazes de envolver Maria no silêncio de uma escuta contemplativa e atenta, de lançar Marta numa fé vigorosa naquele que é Filho de Deus e por isso lançar-se no trabalho generoso, enfim de ressuscitar Lázaro e fazê-lo sair das sombras da morte.
Sim, caro amigo de Deus, Betânia é palco de ressurreições que tiram da sepultura das ilusões, vaidades, inseguranças pessoais aqueles que morreram e pensam de estar vivos. Daí se passa para uma vida nova, fraterna e solidária. Uma vida que encontra sua razão de ser na doação, uma existência que se expande na vitalidade do consumir-se para iluminar, construir, alicerçar, unir, aproximar.
Ser amigo de Deus na casa da amizade significa ser engenheiro do amor que constrói pontes e não engenheiro do egoísmo que constrói muros. Dá mais trabalho construir pontes: é mais dipendioso e caro. Mas, é o que aproxima, une, faz acontecer o milagre da comunhão; Construir muros significa levantar aquilo que separa, desune, afasta, rompe. É mais barato, é mais fácil; é só deixar o comodismo e o egoísmo tomar de conta.
Pensa bem, Filoteu. E toma com coragem a tua decisão. Se quiseres ser discípulo e amigo do Senhor da casa de Betânia tens uma necessidade visceral de fazer acontecer este construtor de pontes que está latente em você.
Um abraço e bênção.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Marta, a Senhora em Betânia.

Sabe Filoteu, estamos para encerrar o mês de julho e dia 29 celebramos Santa Marta. E tu sabes quem era essa personagem. Nos narra São João, o evangelista, que habitava em Betânia e lá Ele gostava de estar. Ali habitavam seus amigos. Eram eles, Marta, seu irmão Lázaro e sua irmã Maria. Marta significa "senhora". Interessante. Fiz uma associação. Senhor ou senhora, na compreensão de Jesus é aquele que se coloca a serviço, quem se predispõe a ficar no último lugar. Por acaso não foi isso que ela fez? Serviu! Doou-se até o fim e até às últimas consequências. Mas, ela recebeu um carão de Jesus porque reclamou de sua irmã que não a ajudava no serviço da casa por se agradar de ouvir o Mestre, estatalada no chão, boqueaberta, bestificada. Poxa, é bom entender bem, que se Jesus reclamou dela, não foi tanto porque ela estava trabalhando. Nosso Senhor mesmo trabalhou muito, suas jornadas eram estafantes e altamente cansativas. Ele se consumiu andando, pregando, curando, expulsando os demônios, atendendo as pessoas. Bem, não poderia reclamar de atividade das pessoas quem foi tão ativo e doado. A reclamação foi porque Marta se esbufelou de correr, se agitou e correu e de modo tal que perdeu o sentido da presença D'Ele na casa. Se ocupou tanto das obras do Senhor que se esqueceu do Senhor das obras. Cuida bem, Filoteu para não cair nesta esparrela. E a casa? e Betânia? Caspiterina! isso quer dizer muito. Esta casa é sobretudo o interior mais íntimo de cada um de nós, onde Ele quer visitar e depois habitar e viver. Quer realizar um pacto de amizade. Betânia quer dizer isso: casa da amizade. Porém, Filoteu, pode tirar o cavalinho da chuva. Não queiras vida folgada! Esta amizade é caminho de cruz, vida sacrificada, ofertada, como foi a vida D'Ele. Quanto mais Nosso Senhor quer uma pessoa, menos ele a poupa. Prepara-te para ser uma laranja espremida. Ser amigo de Nosso Senhor significa viver o que Ele viveu. Longe de ser um caminho de facilidades, podes crer, é caminho de felicidade, ou seja é só o tchekslovikibite, só o tchurinaits. Uma poeira sideral sem fim. Betânia é uma casa de felicidade por ser a casa da amizade. E quando o Amigo é Jesus....., bom, sem comentários adicionais. Um abraço e bênção!

Bem-vindo!

Ser um morador de Betânia significa um alguém que se dispõe a ser amigo, um ser cardíaco e cerebral, capaz de dar e receber na dinâmica de um amor que é construtor de pontes. Betânia é a casa da amizade e esta casa não é uma construção física, mas morada de dentro da alma. Ser morador de Betânia significa estar aberto a contemplar e servir Aquele que nos visita e conosco gosta de estar. Tanto contemplando, quanto servindo, o importante é não perdê-lo de vista. Afinal, prezado Filoteu, Ele é a razão de estarmos juntos, unidos, vivendo esta partilha que tenciona de ser um alegria de somar para multiplicar e não diminuir para separar. Ser morador de Betânia significa de deixar-se ressuscitar por Aquele Divino-Homem portador de uma Palavra forte, vitalizante, geradora de vida, destruidora da morte. Caro Filoteu de Betânia, que a Trindade faça acontecer o milagre luminoso e libertador de sermos um em nossas diferenças.