domingo, 5 de outubro de 2008

Os filoteus de outubro

Querido Filoteu

+ PAZ a ti!

Mês de outubro. Mês de alguns filoteus muito especiais: Teresinha, Francisco, Teresa e Margarida Maria. Pessoas que viveram a amizade de Deus em grau muito elevado, deixaram-se amar por aquele amor desconcertante e muito particular de Deus. Tudo nele é construido na gratuidade e na infinita liberdade, feita de soberania misteriosa e que vai além e muito além de tudo quanto pensamos, queremos, fazemos ou supomos.

A Trindade conduziu estes filoteus por caminhos estreitos, onde o esvaziar-se foi tomando conotações radicais, totalizantes. Tiveram que se abaixar, diminuir, deixar pelo caminho seguranças, cargas e cargos, certezas e afetos, deixar os pesos, as amarras, enfim, "... o que para mim era lucro eu o tive como perda, por amor a Cristo" (Flp 3, 7). Deus os submeteu, eles deixaram-se submeter, assumiram o doce jugo e por fim, Deus submeteu-se a eles, dando-se irrevogavelmente. Tornaram-se uma coisa só com o Amigo. É o que nos descreve Paulo: "para mim viver é Cristo" (Flp 1, 21), ou ainda "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2, 20). Com efeito, Ele não se relaciona com pedaços ou com partes de seus amigos, mas com a totalidade deles. Impressionante e nos faz refletir!

Estes filoteus me animam, me encorajam e me elevam, ao mesmo tempo me denunciam, me passam na cara certas coisas, me jogam no chão. Entenda bem, o problema não são eles, mas minha postura diante deles e do que eles escolheram e viveram. Ele toparam o desafio de viver a lógica sem lógica da gratuidade infinita de um Deus que ama, que é amor e por isso "não sabe calcular". Decidiram passar pela porta estreita do não saber, do não ser, do não ter, enfim do nada para na liberdade jogada na confiança e no abandono, saber, ser e ter segundo Deus. Acreditaram que é Deus quem operava neles o querer e o operar, segundo sua vontade (cf. Flp 2, 13). E estes filoteus assumiram a iniciativa de um "Deus (que) protagoniza a decidida aventura de relacionar-se com o homem, o que vai resultar na história real de uma profunda pertença mútua, no irrevogável 'para sempre' do Amigo ..." (ANDRADE, 2007, 32). Importa acreditar no poder desta amizade, pois ele é o Todo Poderoso, "cujo poder, agindo em nós, é capaz de fazer muito além, infinitamente além de tudo o que nós podemos pedir ou conceber" (Ef 3, 20).

Caro filoteu, pensei muito no comentário que a Elena, uma amiga que mora em Israel fez sobre Betânia, a cidade onde está a casa da amizade: "Betânia! Cidade muito suja e bagunçada, pobre e meio abandonada pelas autoridades palestinas por estar muito próxima de Belém que é território palestino". Eis um retrato de nossas Betânias interiores: sujas, bagunçadas, pobres, meio abandonadas por nossa falta de coragem e determinação em agir e mudar, próximas a Belém (casa do pão) que é Jesus, pão da vida, nossa vida, em território feito de gente sem poder. Afinal, somos alguns pobres diabos, degredados filhos de Eva, gente interesseira, sempre a mendigar as miseráveis consolações e gratificações que as criaturas venham a nos oferecer; Pasme só filoteu, a estes pobres diabos, Aquele que só sabe amar irrompe, quebra, rasga, interrompe, muda, desmancha para ser possível aquele mergulho na mentalidade outra por Ele proposta. Mas, mesmo assim, o Amigo insiste teimosamente em fazer acontecer esta experiência de amizade. Ouvi uma pessoa dizer que "o desejo que Deus tem de salvar o mundo é muito maior que todos os pecados do mundo". Ante esta insistência divina não me ponho a tentar entender. Acho mais razoável tentar de acolher e adorar. Estamos diante do mistério que nos transcende, vai além, muito além de nós mesmos...

Enfim, diante desta graça de eleição que repousa sobre nós, apesar dos pesares, faço minhas as palavras do profeta e do apóstolo: "Quem com efeito, conheceu o pensamento do Senhor? Ou quem se tornou seu conselheiro? Ou quem primeiro lhe fez o dom para receber em troca? Porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos! Amém" (Rm 11, 34-36, cf. Is 40, 13.28).

Um abraço e uma bênção do padre para você!

Um comentário:

Pedro Abreu disse...

Creio que a cada dia precisamos de um abandono diferente.
A cada dia uma nova renúncia, pois nada que é relativamente significante vem sem um esforço; nada vem por acaso!
Um dos frutos do Amor, é a coragem!
Coragem de enfrentar!
Coragem de se impor e de assumir o seu papel fundamental: discípulo amado!
Agradeço por essa renúncia diária que tu vens, com a inspiração divina, nós dar!
No corre-corre do dia, ainda encontra tem´po para formar pessoas "sedentas por esse Amor, que a cada dia buscamos compreender!
É muito fácil dizer que ama, complicado é renunciar pelo Amor!
Com certeza devemos deixar nossas seguranças nas mão da Segurança; segurança do Amor!
Ele nos conduz por caminhos inexplorados, a cada novo dia!
Cristo é uma surpresa nova, a cada dia!
Que a paz de Cristo esteja com todos nós!
Um grande abraço!