sábado, 28 de março de 2009

silêncio - solidão - simplicidade


Silêncio – Solidão – Simplicidade: os portais da Intimidade

A intimidade é a medida do amor e o amor é encontro e busca de comunhão que gera doação, acolhida que dá espaço para a revelação;

Intimidade é silêncio em forma de plenitude, totalidade, percepção do mistério que desemboca no irresistível desejo de abarcar na despretensão de possuir ou controlar. É totalidade, integridade unificada para escutar, olhar Aquele que se revela;

Intimidade é deixar de lado ou colocar em plano secundário tudo o que for instrumental e acessório. Significa ter diante do coração o essencial de tudo e do Tudo;

Intimidade significa reclinar a cabeça no coração do amado Senhor para acolher o pulsar do seu coração de carne e ao mesmo tempo tão divino. É o repouso tão passivo e tão ativo no paradoxo do amor que é vida. É a explosão vulcânica de quem não pode conter o ardor das férvidas larvas tão próprio deste irresistível sair de si. Tal dinamismo impetuoso do amor faz o Verbo sair do seio de seu Celeste Pai para, no incontido êxodo, encarnar-se nas entranhas puríssimas da Dulcíssima Virgem Maria, toda pura, toda santa, toda de Deus, feita Mãe de todos, nas dores da paixão!

A intimidade é na verdade, uma iniciativa divina onde, no augusto mistério da encarnação, o Esposo consolida o seu encontro nupcial com esta pobre humanidade, culpada e manchada, ferida e doída;

Intimidade é colocar-se diante deste trono de misericórdia inigualável, todo pronto para Deus. A suprema humilhação do Verbo nos permite de acolher o Deus altíssimo, que se fez o baixíssimo, pequeniníssimo, na solidariedade divina, resgatando o Adão culpado, banido do paraíso;

Intimidade é não querer entender co’a razão, mas adorar com o coração, no silêncio reverente, recolhido, respeitoso, mergulhado no mistério de Quem é, foi, será e vem!

Intimidade é saber calar as razões e suas encenações ou suas ações para dar lugar à suavidade inenarrável do não saber e do não querer ver ou perceber, mas crer, acolher, escolher sem medo de descer, no deixar-se enternecer pelo Eterno que humano quis ser!

Intimidade é silencioso e acolhedor vazio a ser preenchido pela verdade da caridade que encarna a beldade e bondade do infinito, do todo Outro que faz o eu encontrar o seu lugar;

Intimidade é vazio, lugar vago e sem brio, pela pobreza afagado, que se encontra marcado e de que ninguém mais pode ser; Mas será d’Aquele que é só, somente do que é Único!

Intimidade é silêncio profundo, fecundo, o qual na força de sua plenitude cala os gritos, as vozes e ruídos, as interferências nas suas multiformes consistências e exigências; silenciosa escuta da Palavra comunicadora e operosa, transformadora, corajosa, arrebatadora e prestimosa na força unitiva do amor que se faz comunhão, divino vulcão, explosão de vivificação;

Intimidade é este corpo ferido, na cruz pendido, o coração transpassado, o vulto velado pela dor de um ser rendido, todo ofertado, tão fragilizado e sofrido! Lá está Ele, ser humano rendido, tão divino escondido, livremente indefeso, tão doce peso, aquele cadáver, tão teso e tão leso, nas dores da paixão!

Intimidade é este mesmo corpo, vivo ressuscitado, eucaristicizado, para ser presença, amorosa e gloriosa, poderosa e honrosa, de um amor que não se ausenta, mas sempre se apresenta, como dom total, sem reservas e por inteiro;

Intimidade é imitação, discipulado, seguimento, sempre atento do amor, que se faz pão, doce comida, a nossa vida, divina refeição;

Intimidade é como Cristo, ser pão partido, dom partilhado, todo ofertado, oferecido em comunhão;

Intimidade é adoração deste mistério, colher o dom que faz de Si, a santa Vítima, o doce amigo, pascal Cordeiro;

Intimidade é transbordar do Deus Trindade, santa unidade, grã comunhão, mistério augusto, que a nós vem em Três Pessoas, santas e boas, tão sumo Bem!

Intimidade é simplicidade para acolher sem medo de crer o que Deus revela, amor que se entrega com todo o seu ser;

Intimidade é simplicidade, amor e bondade, disponibilidade em se dar e servir, coração de criança, humildade em abundância, mansidão e constância para a paz cultivar!

Intimidade é jardim, bem varrido e florido, para o Esposo agradar; é fonte selada, pelo Amado encantada, água pura de amor! É canteiro enfeitado, de belas flores adornado, de virtudes embelezado, paraíso encantado da pureza o esplendor!

Intimidade é partilha com o Dileto, é amor gratuito e concreto, é tudo por em comum; é amizade verdadeira, determinação certeira de com Ele sempre estar!

Intimidade é silêncio, solidão, simplicidade, santos magos que visitam o mistério do Amor, de comunhão e união, de plenitude transbordante no dinamismo da Missão!




Ó Deus uno e Trino Santo
Dai-nos viver até morrer
Sem no amor esmorecer
Para no céu vos poder ver

Na vossa Santa intimidade
Viva eu sempre em caridade
Em castidade e humildade
Pra dia e noite em Vós viver

Que no silêncio eu vos escute
Na solidão em Vós habite
Que meu espírito e este meu ser
Eu vos adore, ame e sirva
E na feliz eternidade
Eu vos possa sempre ter!

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