sábado, 3 de abril de 2010

Foi lá na cruz!


Lectio de 02/abril/2010 (Sexta-feira da paixão do Senhor: Jo 18, 1-19, 1-42)

A quem procurais? Eles responderam: Jesus o Nazareno” (18, 5);
Qual a razão de se procurar Jesus de Nazaré? Aqueles homens o procuravam para eliminá-lo, pois Jesus, assumir-se como Messias, parecia para aquelas pessoas algo de inaceitável. Mas, felizmente, no curso destes dois mil anos, há pessoas que procuram Jesus, pois acreditam no seu amor, na sua verdade, na sua missão e assumem, pela graça, a identidade de cristãos, isto é, discípulos amados do Senhor.

“Não vou beber o cálice que o Pai me deu?” (18, 11);
Beber o cálice! O cálice da ira de Deus, o cálice da sua justa indignação com o pecado humano, o mesmo que a humanidade deveria beber e assim, satisfazer a justiça divina. Mas, Ele o fez e quem aderir ao seu projeto, receberá o dom do Seu Espírito e a vida divina brilhará e resplandecerá em quem o aderir. Cumprem-se, assim, as palavras da Escritura: “É preferível que um só morra pelo povo” (18, 14);

“O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui. (...). Jesus respondeu (a Pilatos): Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (18, 36.37b);
Venha a nós o vosso Reino, ensinou-nos Jesus a pedir! Este Reino é o que se encarna na história, mas não estaciona nas categorias de tempo e de espaço, mas as transcende, as ultrapassa. Jesus é Rei, é soberano, é o supremo, mas de forma alguma identificará a sua messianidade com as realidades presentes! Quantos equívocos de tantos do passado e do presente que acham que ao resolver os problemas sociais e políticos, promover humanamente as pessoas, o ideal do Reino foi atingido! O Reino não acontecerá se tais metas forem atingidas, mas o coração humano não aderir intimamente a Jesus, ao seu projeto salvífico, na realização plena de seus desígnios de amor e de poder. Nosso Senhor é a verdade e por isso quem o escuta, aderindo-O, plenifica-se, atinge a grande meta! Escutar sua voz, sim, para acolher sua Palavra santa e poderosa. Escutar que está intrinsecamente ligada ao aderir incondicionalmente, existencialmente ao Mestre, seguindo-O, isto é, imitando-O.

(disse Pilatos): “Olhai, eu o trago aqui fora, diante de vós, para que saibais que não encontro nele crime algum” (19, 4) .
Eis uma declaração da inocência de Nosso Senhor. Pilatos é iníquo, profundamente covarde, vende sua consciência em função de seus medos gerados pelo seu cargo, sua função. É permissivo ante a pressão da corja insana que o inquieta e pressiona. E eu, você, abrimos mão da verdade, da nossa adesão a Cristo em função de interesses pessoais, de seguranças humanas, de hesitações e medos oriundos do respeito humano?

“Não tinhas autoridade alguma sobre mim, se ela não te fosse dada do alto. Quem me entregou a ti, portanto, tem culpa maior” (19, 11);
Toda autoridade é dada do alto. Se não fosse dada do alto, tal autoridade não teria sido dada a Pilatos. Uma visão de fé, sem dúvida, geradora da submissão de Jesus. Ele sabe que por detrás das determinações da autoridade, os desígnios do Pai se cumprirão; mas uma constatação é preciso fazer, a saber, que todos quantos são revestidos de autoridade, são necessariamente chamados a responder por seus atos de modo muito particular. As autoridades: promoveram as pessoas plenamente, buscaram o bem delas ou as impediram ou criaram obstáculos para que elas fossem autenticamente felizes, se encontrassem com Deus e sua verdade libertadora, em suma, fossem salvas do pecado e libertadas do demônio?

“Eis o vosso rei!” (19, 15); (Disse Jesus para Maria): “Mulher eis o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Esta é tua mãe”. Dessa hora em diante o discípulo a acolheu consigo (19, 26b-27);
Uma das páginas mais preciosas! Maria é-nos dada na dor suprema da cruz! Ela, com sua sublime maternidade, faz-nos irmãos de Jesus! Ser filho de Maria é um jeito muito concreto de ser filho de Deus, pois Ela nos inserirá com grande fecundidade na vontade do Pai, cujo cumprimento ela tornou-se perita, especialista. Maria, a discípula, a Mãe, a intercessora, a auxiliadora, o modelo. Acolhê-la em casa tem um simbolismo forte, eloqüente, pois significa assumi-la na vida, na própria história, fazendo-se servo do Senhor, escravos da Palavra, empenhados decisivamente em fazer tudo o que Jesus nos disser. Nunca seremos gratos o suficiente a Jesus por ter-nos dada a sua Mãe para ser também nossa Mãe.

“Tenho sede” (19, 28);
“Deus tem sede que tenhamos sede dele” (Agostinho). Sede do amor das criaturas, dirá Teresinha do Menino Jesus. Mais que sede de água que certamente foi grande também.
“Tudo está consumado”. E inclinando a cabeça, entregou o espírito” (19, 30);
Toda a obra do Pai estava cumprida. O servo obediente foi até o fim. Jesus pendente da cruz, símbolo máximo e eficaz da obediência incondicional a Deus. Que vemos? Só amor, amor imenso, infinito, radical, um amor louco, indescritível. É olhar e apaixonar-se, é amar e seguir o Mestre carregando também a nossa cruz, sendo crucificados com Ele, sepultados com Ele para com Ele ressurgir.

(...), mas um soldado abriu-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água” (19, 34);
Aqui nascemos, aqui vivemos, aqui amamos, aqui somos discípulos, daqui somos enviados e tornamo-nos missionários em seu nome e seu amor!

“Não quebrarão nenhum dos seus ossos. E outra Escritura ainda diz: “Olharão para aquele que transpassaram” (19, 36-37);
Ele é o Cordeiro pascal e, por isso, nenhum osso lhe será quebrado. Sim, olharemos o traspassado. Contemplaremos e enxergaremos o seu amor incondicional, total. O onipotente fragilizou-se imensamente, o santíssimo assumiu as culpas dos pecadores, o perfeito e infinitamente são, deixou-se ferir e assumiu nossas dores. Nós O contemplamos! Com os olhos da fé, do amor, com os olhos interiores e deixamo-nos interpelar.

No lugar onde Jesus foi crucificado, havia um jardim e, no jardim um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado” (19, 41).
Um jardim. Lá no Éden, havia também um jardim: lá se consumou o pecado. Lá no túmulo, um jardim: lá se consumou a obediência. Começou um novo paraíso, inaugurado com o sepulcro que acolheu Quem matou a morte, quem está cheio de vida. O jardim é o lugar do sepulcro foi palco da ressurreição, encheu-se de luz e vazio ficou! A esperança salva!

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