terça-feira, 23 de março de 2010

Morrereis nos vossos pecados se não acreditardes que eu sou!


Lectio de 22/mar/2010
Disse-vos que morrereis nos vossos pecados, porque, se não acreditais que eu sou, morrereis nos vossos pecados. (...). Mas, aquele que me enviou é fidedigno, e o que ouvi da parte dele é o que falo para o mundo. (...). Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou, e que nada faço por mim mesmo, mas apenas falo aquilo que o Pai me ensinou. Aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou sozinho, porque sempre faço o que é de seu agrado”. (Jo 8, 24.26.28s)
Morrer no pecado! Algo possível e inexoravelmente conseqüente. Claro, o pecado leva à morte. Para nos tirar da morte, é que Nosso Senhor, por misericordiosa condescendência, pagou na cruz por nossos pecados. "A pregação da fé - diz Paulo - é uma insensatez para os que se perdem, mas para os que se salvam, para nós, ela é poder de Deus" 1Cor 1, 18. Por isso, insistir em não crer nele é sinônimo de mergulhar na morte, adotá-la como princípio e fundamento de um sepultar-se em um triste fim, falência definitiva de uma existência, desespero lancinante. Acreditar, pois quem o enviou é fidedigno, ou seja, fiel e digno, ou melhor, é um alguém digno de fé. Pode-se crer, sem medos ou receios. Acreditar, crer, enfim, que significa? Mais que saber que existe, dizer-se cristão, dizer-se devoto ou sei mais lá o que, bom, crer é aderir. Não é somente escrever: papel aceita tudo. O computador também. Basta escrever! Basta digitar! Os ouvidos das pessoas escutam tudo! Mas, quem haverá de dar crédito? Não serão as vidas que falam por si mesmas? Não serão as escolhas feitas a cada dia? E tal adesão é vital, existencial, envolve uma opção fundamental que, longe de ser uma efemeridade, constitui a fonte de todas as tantas opções feitas não em um ou outro, mas em todos os dias de vida; eis um verdadeiro e radicalmente consciente discípulo de Jesus. Não acreditar que Ele é, ou seja, um com o Pai, tal é mergulhar no erro, na escuridão, na obscuridade mais sinistra. Professamos, pois que Jesus, o Cristo, é Deus de Deus e luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai e por Ele todas as coisas foram feitas. Assim reza o credo niceno-constantinopolitano. Essa é a nossa fé, que da Igreja recebemos, razão de nossa alegria em Cristo Senhor. Essa é a fé que a Igreja recebeu dos apóstolos e que estes receberam de nosso Mestre e Senhor.
O Cristo nos fala o que ouviu do Pai. Com certeza! Ele é a Palavra do Pai e por isso, gerado pelo Altíssimo antes de todos os séculos é quem nos abre as portas para a verdade. Sem Ele ninguém vai ao Pai, pois é o caminho, a verdade e a vida, outro itinerário não há para o céu alcançar. Nada o Verbo faz por si mesmo, pois procede de Quem o gerou. Mas, o Pai, nada faz sem Ele, pois é imagem do Deus invisível. Assim sendo, o Pai nunca deixa o seu Unigênito sozinho, pois sempre Jesus faz o que é do seu agrado. Estar sempre na vontade santíssima de Deus significa necessariamente viver e estar sempre na companhia da Trindade, viver a felicidade da paz autêntica e estável. Isso comporta uma felicidade tranqüila, cheia de luz e de plenitude. Estar na vontade de Deus é viver esta bem-aventurança carregada de eternidade. Não é por nada que os santos diziam que a vontade de Deus era o seu paraíso! Quando o Filho for elevado, então saberemos quem Ele é. Eis os olhos de águia do discípulo amado. Contempla o mistério em toda a sua vastidão e altura, luminosidade e transcendência máxima. Bem, obviamente, isso na medida em que lhe foi permitido sondar. Mas, o que Ele viu, e com ele cremos firmemente, ainda é bem aquém daquilo que realmente Deus é. O Senhor nos ultrapassa infinitamente. Mas, no que for possível colher e acolher, aqui estamos. Vigilantes e orantes, contemplativos e ativos, mergulhados no mar infinito da verdade, beleza e verdade do Inefável por excelência e antonomásia, ante tal esplendor, resta-nos adorá-lo e servi-lo. Olhos de águia de João para contemplar no que foi elevado na cruz um aniquilado, um derrotado, o homem das dores, mas concomitantemente, pasmem todos, lá está o vitorioso, o vencedor, o glorioso. A glória não consiste no sucesso, no estrelismo, na fama, na badalação, no êxito aos moldes humanos. A glória consiste na fidelidade ao querer de Deus. Por isso, o Cristo obediente é um triunfador e todos os que seguem seus passos também o são! Lá na cruz, a missão e verdade de Jesus atingem o seu clímax, para desabrochar na força infinita de vida de sua gloriosa ressurreição. Em vista disso, mais uma vez o apóstolo das gentes contribui: "(...) nós porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos. mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, esse Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus (1Cor 1, 23-24).


ORAÇÃO: Ó Tu que foste elevado da terra, no madeiro e depois, glorioso ascendeste ao Céu. Ó Tu que nos livras para que não morramos em nossos pecados nem sucumbamos em nossas iniqüidades. A Ti rogamos: salva-nos, por Tua cruz gloriosa! Dá-nos, pelo abandono penosamente sofrido em tua dolorosa paixão, a sabedoria da cruz e a inteligência da fé, o intelecto do amor! No calvário, palco de tua vitória, cenário de teu amor infinito, de tua obediência radical e sem precedentes, lá nos uniremos aos discípulos, poucos é verdade, mas leais. Contemplamos-te ó Mestre crucificado e de tua cátedra, ouviremos tuas lições. Contemplamos-te ó Soberano Senhor e em tua coroa de espinhos acolhemos tua desconcertante humildade. Contemplamos ó belíssimo esposo que te apresentas como um verme e que nosso coração se deleite com a verdadeira beleza enquanto esplendor da verdade. Contemplamos-te amigo nosso, amador nosso, homem como nós, solidário conosco, frágil entre os frágeis, sofredor em meio aos sofredores, pobre com os pobres! Ouve o meu clamor e escuta a minha prece: Torna-te irresistível! Nenhuma beleza efêmera e visível, nenhuma mentira bem embrulhada de verdades e evidências aparentes, nenhum bem enganoso e fugaz nos façam perder-te ó adorável. Sê Tu o único! Que as criaturas nada sejam para os que te amam e os que te amam nada sejam para as criaturas. Só a caridade do Espírito que de Ti procede seja nosso guia, nossa bússola! Assim, apegados tão somente a Ti, inseridos em Ti, só cresçamos a cada dia nesta busca incessante de identificarmos nossa vida com a Tua. Amém.

Nenhum comentário: