quinta-feira, 25 de março de 2010

Querido Verbo Carne!




Lectio de 25/mar/2010


"No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito. (....). O Verbo era a luz verdadeira que ilumina todo homem; ele vinha ao mundo. (...) Veio para o que ela seu e os seus não o receberam. Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que crêem em seu nome (...). E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto do Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade (...). Pois de sua plenitude todos nós recebemos graça por graça. Porque a Lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único que está voltado para o seio do Pai, este do deu a conhecer" (Jo 1, 1-3.9.11-12.14.17-18).


Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo. (...). O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a tua sombra; por isso, o Santo que nascer será chamado Filho de Deus. Disse, então, Maria: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra! (Lc 1, 31.35.38).


Verbo, felicidade plena do Eterno Pai, Verbo, toda alegria de Maria, a Virgem-Mãe, Verbo eterno doçura dos anjos, Verbo precioso e tão necessário, tão imprescindível para João, Pedro, Madalena, e para mim, por que não? – és o Verbo caro. Assim te chamarei, Querido Verbo-carne! E se assim não te chamar, direi que és o Precioso. O tesouro escondido no campo do coração, a vida plena que afugenta a pior das mortes (a eterna), a luz que dissipa as piores trevas (a do pecado), a santidade que destrói todo vício, a verdade que eclipsa toda mentira (do demônio). Que bom que assim seja: és o Verbo, isto é a Palavra.O outro vocábulo para traduzir a Palavra foi Verbo, isto é, ação, movimento! O Verbo faz a acontecer. Ele que estava com o Pai desde o princípio, sendo Ele Deus com o Pai, tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito, ou seja, a inteligência do Pai, sua comunicação fez todas as coisas, realizou a obra da criação.


Mas, para realizar a ação mais sublime, a recriação, a mais notável obra de amor e de resgate, a salvação da humanidade, quis o Pai enviar a sua Palavra, gerada desde toda eternidade, Seu Filho, Deus de Deus, Luz da Luz, gerado não criado, consubstancial ao Pai. O Verbo se fez carne! Se fez gente, fez-se perceber, ouvir, tocar, ver! Exclamará João, em seu êxtase ante o Mestre amado, do qual Ele é o discípulo amado: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos, e o que nossas mãos apalparam do Verbo da vida – porque a vida manifestou-se: nós a vimos e lhe damos testemunho e vos anunciamos a Vida eterna, que estava voltada para o Pai e que nos apareceu – o que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos para que estejais também em comunhão conosco” (1Jo 1, 1-3). Tornar-se carne significa assumir a humanidade em sua condição de fraqueza e de mortalidade. Eis o realismo deste doce abaixar-se do Verbo-caro. Habitou entre nós é um termo que recorda Deus na tenda da reunião, cuja presença temível e invisível (cf. Ex 25,8; cf. Nm 35,34). Carne, portanto, trás à baila, o mistério da fragilidade humana de quem manteve sua natureza divina e fez caminhada conosco. Dirá São Leão Magno: “A humildade foi assumida pela Majestade, a fraqueza, pela força, a mortalidade, pela eternidade. Para saldar a dívida da nossa condição humana, a natureza impassível uniu-se à natureza passível. Deste modo, como convinha à nossa recuperação, o único mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, podia submeter-se à morte, através de sua natureza humana e permanecer imune em sua natureza divina. (...). Assumiu a condição de escravo, sem mancha de pecado, engrandecendo o humano, sem diminuir o divino” (Ep. 28, ad Flavianum, 3-4: PL 54, 763-767, Liturgia das Horas, vol. II, p. 1506).


Mas, pela fé, pelo encontro com a Sagrada Escritura, com a Eucaristia, adorada, recebida, celebrada, certamente o encontramos. E nos realizamos plenamente neste itinerário de luzes e sombras que o Amado nos permite de viver, fazendo-nos percorrer não um caminho de garantias e seguranças humanas, mas um percurso de fé, de trilhas evangélicas na mata do não saber, da pobreza existencial profunda. Nós também o tocamos, nós o vimos, ou escutamos. Somos felizes!


Na pobreza, pequenez, humildade, obediência e na força da verdade profunda, do poder e da graça, as duas naturezas presentes na mesma pessoa (de Cristo), vê-se a tenda da reunião de modo bastante diferente: Ele é a tenda da reunião, em sua sacratíssima humanidade.


Além disso, é bom lembrar que Maria teve um papel muito importante. Sua ligação com a Palavra abre espaço para que o mistério de um Deus desejoso de dar-se, revelar-se, comunicar-se, exatamente porque ela é o lugar onde esta substancia humana é tecida pelo Espírito Santo. O papel dela, tão importante e, Ela, tão humilde! A serva do Senhor, disponível para a Palavra. Serviço da Palavra. Contemplaremos o mistério nela. E creio que as pessoas querem ver este mistério da encarnação em mim, em você, em nós todos. Corações grávidos de Cristo, por uma união cada vez mais profunda, amadurecida, verdadeira com Ele.


Que tal, tentar? A graça de Deus acontecerá e o auxílio da Virgem não faltará.

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